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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A infecção através de bacteremia leva a hiperatividade do simpático e então ao processo aterosclerótico

Pesquisas sugerem há bastante tempo que a infecção pode ser a causa ou promover aterosclerose. Essa idéia é suportada por muitos relatos e estudos epidemiológicos (1).
Entretanto, os principais testes usando antibióticos falharam em provar seus efeitos de proteção na prevenção secundária da doença arterial coronária (2).
A doença periodontal, uma das mais comuns infecções crônicas de bactérias, pode representar um cenário favorável para verificar a conexão entre infecção e aterosclerose/doença cardiovascular.
Os primeiros pesquisadores a indicar um relacionamento entre infecções orais e aterosclerose foram Mattila e colegas. Em seu estudo publicado em 1989 eles identificaram a doença periodontal como um independente preditor de um elevado risco de infarto do miocárdio (3).
Muitos estudos estão sugerindo uma fonte oral para a bactéria associada à placa aterosclerótica, com a demonstração da presença de patogênicos periodontais viáveis nas placas ateroscleróticas (4, 5, 6, 7). Relativamente a esse ponto uma interessante hipótese foi proposta em 2004 de que a infecção periodontal poderia levar a breves episódios de bacteremia com a inoculação da placa aterosclerótica por patogênicos periodontais tais como Porphyromonas gingivalis, Actinobacillus actinomycetemcomitants e Tannerela forsythensis (8).
Relacionada a esse assunto uma recente revisão de estudos diz que procedimentos clínicos por dentistas nos dentes e periodôntica, junto com a escovação diária feita por pacientes, produz uma bacteremia transitória, a qual pode causar uma infecção secundária em um tecido ou órgão distante, inclusive artérias. Para os autores dessa revisão é evidente que ambos os procedimentos cirúrgicos endodônticos e instrumentação não cirúrgica de raiz de canal durante endodontia podem produzir bacteremia transitória. Também enfatizaram que a extração de dente causa bacteremia em 100% das vezes (9)
Coincidentemente, um estudo publicado no mês passado revelou dados de pacientes do Medicaid mostrando que os riscos de eventos cardiovasculares adversos aumentam agudamente no mês seguinte ao tratamento invasivo dental e então gradualmente retornam ao normal após 6 meses (10)
Contudo, uma importante informação é deixada de lado pela maioria dos investigadores estudando a conexão entre a infecção oral e aterosclerose/doença cardiovascular. Eles não tomam em consideração de que o sistema nervoso simpático é intensamente ativado durante a bacteremia. Isso foi demonstrado por estudos mostrando que o tônus do simpático rapidamente aumenta após injeção experimental ou infusão de bactérias e similarmente durante bacteremia em humanos (11, 12, 13, 14).
Além disso, em uma revisão sistemática publicada em 2007, cerca de 57% dos estudos mostrou uma relação positiva entre estresse/fatores psicológicos e doença periodontal (15). Esses resultados são reforçados por um estudo bastante recente indicando que o sistema nervoso simpático é envolvido no desenvolvimento da periodontite e que o bloqueio dos beta-receptores no tecido periodontal por um simpatolítico (propranolol) inibiu a diferenciação entre osteclastos e preveniu perda de osso alveolar induzido por Porphyromonas gingivalis (16)
Dentro do ponto de vista da teoria da acidez na aterosclerose a predominância do simpático é o fator primário na cascata de eventos levando a espiral aterogênica. Portanto, pensamos que a infecção através da bacteremia pode ser adicionada a longa lista de fatores de risco para aterosclerose/doença cardiovascular, como mencionado no trabalho sobre a teoria da acidez e em outros artigos prévios publicados nesse blog (17).
Carlos Monteiro

1. Epstein SE, Zhou YF, Zhu J. Infection and atherosclerosis. Emerging mechanistic
paradigms. Circulation 1999;100:20–8.
2. Anderson JL. Infection, antibiotics and atherothrombosis: end of the road or new beginnings?, N Eng J Med 2005;352:1706-1709
3. Mattila K, Nieminen MS, Valtonen VV, et al. Association between dental health and acute myocardial infarction. Br Med J 1989;298:779–82.
4. Haraszthy VI, Zambon JJ, Trevisan M, Zeid M, Genco RJ. Identification of
periodontal pathogens in atheromatous plaques. J Periodontol 71:1554–1560, 2000
5. Stelzel M, et al. Detection of Porphyromonas gingivalis DNA in aortic tissue by PCR. J Periodontol 73:868–870, 2002
6. Kozarov EV, Dorn BR, Shelburne CE, Dunn WA, Jr, Progulske-Fox A. Human atherosclerotic plaque contains viable invasive Actinobacillus actinomycetemcomitans and Porphyromonas gingivalis. Arterioscler Thromb Vasc Biol 25:e17–e18, 2005
7. Gaetti-Jardim E, Jr, Marcelino SL, Feitosa AC, Romito GA, Avila-Campos MJ. Quantitative detection of periodontopathic bacteria in atherosclerotic plaques from coronary arteries. J Med Microbiol 58:1568–1575, 2009
8. Giacona MB, Papapanou PN, Lamster IB, Rong IL, D’Agati VD, Schmidt AM, and Lalla E. Porphyromonas gingivalis induces its uptake by human monocytes/macrophages and promotes foam cell formation in vitro. FEMS Microbiol Letter. 241, 95-101, 2004
9. Cotti E, Dessi C, Piras A, Mercuro G. Can a chronic dental infection be considered a cause of cardiovascular disease? A review of the literature. International Journal of Cardiology, 2010, doi 10.1016/j.ijcard.2010.08.011
10. Minassian C, D’Aiuto F, Hingoriani AD, Smeeth L. Invasive dental treatment and risk for vascular events. A self-controlled case series. Ann Intern Med 2010; 153:499-506
11. Palsson J, Ricksten SE, Delle M, Lundin S. Changes in renal sympathetic nerve activity during experimental septic and endotoxin shock in conscious rats. Circ Shock 1988; 24:13341.
12. Jones SB, Kovarik MF, Romano FD. Cardiac and splenic norepinephrine turnover during septic peritonitis. Am J Physiol 1986; 250:R8927.
13. Leinhardt DJ, Arnold J, Shipley KA, Mughal MM, Little RA, Irving MH. Plasma NE concentrations do not accurately reflect sympathetic nervous system activity in human sepsis. Am J Physiol 1993; 265:E2848.
14. Straub RH, Pongratz G, Weidler C, Linde HJ, Kirschning CJ, Glück T, Schölmerich J, Falk W. Ablation of the sympathetic nervous system decreases gram-negative and increases gram-positive bacterial dissemination: key roles for tumor necrosis factor/phagocytes and interleukin-4/lymphocytes. Infect Dis. 2005 Aug 15;192(4):560-72.
15. Daiane C. Peruzzo, Bruno B. Benatti, Glaucia M.B. Ambrosano, Getúlio R. Nogueira-Filho, Enilson A. Sallum, Márcio Z. Casati, and Francisco H. Nociti Jr. A Systematic Review of Stress and Psychological Factors as Possible Risk Factors for Periodontal Disease. Journal of Periodontology, August 2007, Vol. 78, No. 8, Pages 1491-1504
16. Okada Y, Hamada N, Kim Y, Takahashi Y, Sasaguri K, Ozono S, Sato S. Blockade of sympathetic b-receptors inhibits Porphyromonas gingivalis-induced alveolar bone loss in an experimental rat periodontitis model. Arch Oral Biol. 2010 Jul;55(7):502-8.
17. Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Associação da anormalidade nos lipídeos com a produção anormal de lactato e a progressão da doença arterial coronária

A associação dos níveis aumentados dos lipídeos com o lactato anormal no metabolismo pode fornecer um eficiente teste de triagem para a detecção da doença arterial coronária (1). De fato, foi demonstrado que a anormalidade dos lipídeos no plasma e a produção de lactato no miocárdio, no tempo do estudo inicial, foram significativamente associadas com uma progressão arteriografica subseqüente (2).
Em nossa opinião o aumento nos lipídeos do plasma, apresentado nesses estudos, poderia ser uma resposta à injúria do endotélio arterial, relacionado com uma aumentada liberação de lactato. O conceito da resposta à injúria é suportado pela teoria da acidez na aterosclerose (4)
O montante de lactato liberado pelo miocárdio tem-se mostrado estar relacionado com a severidade da doença arterial coronária em diversos estudos (1,2,3). Um desses estudos (3) demonstrou heterogeneidade do metabolismo de lactato miocárdico em repouso nos pacientes com doença coronário-miocárdica. Lactato foi liberado ou produzido pelo miocárdio quando não existia nenhuma evidência de isquemia e a diferença de lactato no seio coronário mostrando extração liquida de lactato global.
Carlos Monteiro

1. G. Jackson, Lynne Atkinson, M. Clark, B. Crook, P. Armstrong, and S. Oram, Diagnosis of coronary artery disease by estimation of coronary sinus lactate. British Heart Journal, 1978, 40, 979-983. Texto gratuito em http://circ.ahajournals.org/content/47/3/455.full.pdf
2. Bemis CE, Gorlin R, et al. Progression of coronary artery disease: A clinical arteriographic study. Circulation, Vol XLVII, March 1973. Texto gratuito em http://circ.ahajournals.org/content/47/3/455.full.pdf
3. Gertz EW, Wisneski JA, Neese R, Bristow JD, Searle GL, Hanlon JT: Myocardial lactate metabolism: evidence of lactate release during net chemical extraction in man. Circulation 1981, 63: 1273-1279. Texto gratuito em http://circ.ahajournals.org/cgi/reprint/63/6/1273
4. Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)

domingo, 5 de setembro de 2010

Os níveis de ácido láctico no plasma e de desidrogenase láctica (LDH) aumentam com a idade?

Loiseleur e Morel foram os primeiros a relatar em 1931 sobre o aumento na concentração de ácido láctico no plasma com a idade (1). Contudo, em um estudo realizado por Gottfried, Pelz e Clifford, publicado em 1961, não foi observada nenhuma diferença nos níveis de ácido láctico no plasma entre um grupo de 49 homens e mulheres acima de 70 anos de idade e um grupo de controle abaixo de 50 anos de idade (2).
Davis e colegas em estudo publicado em 1966 também relataram que o ácido láctico no plasma não aumenta com a idade. Em dois grupos de pacientes ambulatoriais com idade média de 67 anos, totalizando 544 indivíduos que estavam aparentemente livres de doenças agudas, a análise de regressão para tanto o ácido láctico no plasma quanto ao LDH não revelou qualquer mudança significativa (3).
Contrastando com os relatos de Gottfried (2) e Davis (3), um estudo por Nagamine e Shima publicado em 1989 indicou a partir de análises químicas no plasma, obtido de 1822 homens e de 1870 mulheres, que os valores para o LDH foram maiores nas mulheres acima de 50 anos de idade. Quando homens e mulheres foram combinados as faixas de referências normais para o LDH tenderam a ser elevadas. Os valores para o colesterol total e triglicérides alcançaram um pico em certa idade (4).
Tomando em vista os resultados conflitantes nos trabalhos acima mencionados, pensamos que novas investigações são necessárias em ordem de definitivamente esclarecer se o ácido láctico no plasma e o LDH aumentam com a idade, se existe correlação com os níveis de colesterol, e sobre uma potencial relação causal, como apregoada pela teoria da acidez na aterosclerose (5).
Lembrando O. J. Pollak, 1952:
“Certamente todos os tecidos mudam com a idade. Existe envelhecimento anatômico e químico. A acidez dos tecidos aumenta com a idade; isso favorece a precipitação do colesterol”, O. J. Pollak, 1952
Carlos Monteiro
1. Loiséleur J and R Morel. Influence de l’age et de L’état fonctionnel du foie sur la lacticémie. C. R. Soc. Biol, Paris, 106:35-37, 1931
2. Gottfried S. P., K. S. Pelz and R. C. Clifford. Carbohydrate metabolism in healthy old men over 70 years of age. Amer J. med. Sci, 242: 475-480, 1961
3. Davis R. L., Lawton A. H. et al. Serum lactate and lactic dehydrogenase levels of aging males. J. Gerontology 1966, Oct 21(4):571-4
4. Nagamine Y, Shima K. Changes in normal reference ranges for serum chemical analyses with ageing. Nippon Ronen Igakkai Zasshi. 1989 Jan;26(1):31-6.
5. Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Enxaqueca, doença cardiovascular e maior concentração de ácido láctico no plasma

Pessoas com enxaqueca, particularmente aquelas com aura (distúrbios sensoriais ou visuais temporários antes ou durante a dor de cabeça), têm um aumentado risco de mortalidade na doença coronário-miocárdica e derrame (AVC), de acordo com pesquisa publicada nesta semana no British Medical Journal. O estudo avaliou o impacto de episódios de enxaqueca na meia-idade em 18.725 homens e mulheres nascidos entre 1907 e 1935 que tomaram parte no Reykjavik Study (estabelecido em 1967 pela Associação de Coração da Islândia). No total, o time de pesquisa explorou cerca de 470.000 pessoas-anos de dados com um seguimento de 26 anos. Sua conclusão foi de que a enxaqueca com aura é um fator de risco independente para a doença cardiovascular e mortalidade por todas as causas em homens e mulheres (1).
O interessante é que os sofredores de enxaquecas têm maior concentração de ácido láctico no plasma (2), um fator de risco decisivo para a doença cardiovascular, conforme a teoria da acidez na aterosclerose (3).
Carlos Monteiro
1.Larus S Gudmundsson, Ann I Scher, Thor Aspelund, Jon H Eliasson, Magnus Johannsson,Gudmundur Thorgeirsson, Lenore Launer and Vilmundur Gudnason. Migraine with aura and risk of cardiovascular and all cause mortality in men and women: prospective cohort study. Published 24 August 2010, doi:10.1136/bmj.c3966, BMJ 2010;341:c3966. Full free text at http://www.bmj.com/cgi/content/full/341/aug24_1/c3966
2.Okada H, Araga S, Takeshima T, Nakashima K. Plasma lactic acid and pyruvic acid levels in migraine and tension-type headache. Headache. 1998 Jan;38(1):39-42.
3. Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Respiração lenta aumenta a sensibilidade barorreflexa e reduz a atividade simpática com benéficos efeitos sobre a doença cardiovascular

O controle da respiração tem sido usado como uma estratégia efetiva para acalmar frente a situações estressantes na vida diária durante séculos. O conselho habitual para respirar profundamente sob circunstâncias emocionais tais como estresse, ansiedade e raiva é uma clara indicação disso, ainda que nós não paremos normalmente para considerar a conexão entre nossa respiração e os estados emocionais. Sobre o assunto existe um estudo realizado no Japão onde 241 homens e mulheres completaram o questionário concernente a eventos estressantes na vida real e estratégias de relaxamento que eles usaram para superar esses eventos estressantes. O resultado claramente mostrou que a maioria das estratégias usadas foi a de respiração profunda. Cerca de 60% dos indivíduos relataram que usaram o controle da respiração para acalmar em sua situação estressante. Muitos indivíduos responderam essa questão dizendo que a técnica de respiração abdominal (diafragmática) foi uma efetiva estratégia para acalmar (1).
O relaxamento através de respirações lentas (menos do que 10 ciclos por minuto), usados nas técnicas de ioga e meditação, tem sido pensado por um longo tempo ter efeitos positivos na redução da pressão sangüínea.
Estudos básicos que suportam essas observações clínicas e empíricas e procurando esclarecer o relacionamento entre relaxamento e funções respiratórias começaram nos anos 70. Um trabalho publicado na revista Psychosomatic Medicine em 1996 referiu muitos estudos básicos na discussão sobre os usos terapêuticos da respiração lenta na atenuação de respostas autônomas cardíacas em pacientes com distúrbios de ansiedade (2).
Entretanto, apesar das muitas observações clínicas sugerindo esta direção, a ciência médica em geral, particularmente na cardiologia, tem negligenciado sobre a influência da respiração e de seu relacionamento com o sistema nervoso autônomo e o coração na sua ponderação sobre os fatores de risco cardíaco.
Afortunadamente, estudos recentes estão jogando mais luz e evidências sobre o assunto, dando novas bases para o estabelecimento científico a respeito do vínculo entre estados emocionais e a respiração. Seus achados mostram que a ativação simpática e a desativação do parassimpático estão implicadas na patogênese da hipertensão, apnéia do sono obstrutiva, e da insuficiência cardíaca congestiva, e que a respiração contribui de forma importante para decrescer a hiperatividade simpática e a melhoria da sensibilidade barorreflexa (3 - 13).
É interessante noticiar que o Dr. William Davis, cardiologista e autor do “The Heart Scan Blog”, disse recentemente em uma resposta como convidado no artigo do Jimmy Moore ‘Um leitor pergunta ‘O sangue ácido leva a inflamação arterial? Vamos perguntar aos especialistas’ (14): “Um pensamento final: Interessante, a forma mais fácil e rápida de aumentar o estado alcalino do sangue é a de respirar profundamente. A respiração profunda resulta em dióxido de carbono mais baixo no sangue, resultando em uma alcalinização líquida. Não seria engenhoso se pudéssemos estudar e quantificar essa resposta ao longo do tempo e de seus efeitos sobre a doença aterosclerótica?”
Também interessante é que enquanto alguns estudos documentaram maior atividade simpática nervosa total do músculo (MSNA) durante a hipercapnia comparada com hipóxia, outros estudos observaram uma maior resposta do MNSA frente à hipóxia, comparativamente com hipercapnia, em participantes com freqüências de respiração espontâneas, lentas e rápidas. Enquanto que os autores foram incapazes de distinguir se a ativação induzida foi quimiorreflexa, respiratória ou cardiovascular seus dados sugerem que a hipercapnia e hipóxia causam distintos padrões de ativação dentro de regiões normalmente associadas com controle simpático (15, 16).
Tomando em vista que o tratamento com o uso de pressão positiva contínua em via aérea (CPAP) pode reverter os sinais prematuros da aterosclerose (17), pensamos que a prática da respiração lenta pode também contribuir para a prevenção ou regressão da aterosclerose, através da redução da hiperatividade simpática, seja ela estimulada por hipercapnia, hipóxia, ou outros fatores, de acordo com o conceito da teoria da acidez (18, 19).
Ademais, a hipertensão é um importante fator de risco para o desenvolvimento da aterosclerose, com os dois processos apresentando alguns mecanismos em comum, sendo o endotélio colocado geralmente como o provável foco central para o efeito de ambas as doenças, com evidências que levam a postulação de que a hipertensão predispõe e acelera a aterosclerose (20).
Carlos Monteiro
Nota:
A meditação transcendental não somente reduz o colesterol (21) e a pressão sanguinea (22, 23), mas também reduz o desenvolvimento da aterosclerose (18). Ainda mais interessante é que uma meta-análise de 31 estudos achou que a TM produz uma redução do lactato no plasma (24, 25). Lactato reduzido no plasma indica profundo relaxamento, já que alta concentração de lactato tem sido associada com situações de stress (como por exemplo, alta ansiedade), e alta pressão sangüínea (20). Mais dados sobre lactato, stress, hipertensão e na redução da aterosclerose em pacientes submetidos à Ioga ou TM veja na monografia sobre a teoria da acidez na aterosclerose (18).
1. Yutaka Haruki, I Homma, Akio Umezawa, Y Hasaoka. Facilitation and Emotion of Breathing During Changes in Emotion, Chapter by Akio Umezawa, Book Respiration and Emotion, Springer, 2001
2. Sakakibara M and Hayano J. Effect of Slowed Respiration on Cardiac Parasympathetic Response to Threat. Psychosomatic Medicine 58:32-37 (1996). Full free text at http://www.psychosomaticmedicine.org/cgi/reprint/58/1/32.pdf
3. Clark ME, Hirschman R., Effects of paced respiration on anxiety reduction in a clinical population, Biofeedback Self Regul. 1990 Sep;15(3):273-84.
4. Meles E, Giannattasio C, et al. Nonpharmacologic treatment of hypertension by respiratory exercise in the home setting, Am J Hypertens. 2004 Apr;17(4):370-4
5. Grossman E, Grossman A, et al. Breathing-control lowers blood pressure, Hum Hypertens. 2001 Apr;15(4):263-9.
6. Viskoper R, Shapira I et al. Nonpharmacologic treatment of resistant hypertensives by device-guided slow breathing exercises. Am J Hypertens. 2003 Jun;16(6):484-7.
7. Schein MH, Gavish B, et al. Treating hypertension with a device that slows and regularises breathing: a randomised, double-blind controlled study, J Hum Hypertens. 2001 Apr;15(4):271-8.
8. Elliot WJ, Izzo JL Jr, et al. Graded blood pressure reduction in hypertensive outpatients associated with use of a device to assist with slow breathing. J Clin Hypertens (Greenwich). 2004 Oct;6(10):553-9; quiz 560-1.
9. Oneda B, Ortega KC et al. Sympathetic nerve activity is decreased during device-guided slow breathing, Hypertension Research 33, 708-712 (July 2010) | doi:10.1038/hr.2010.74
10. Anderson DE, McNeely JD, Windham BG. Regular slow-breathing exercise effects on blood pressure and breathing patterns at rest, J Hum Hypertens. 2010 Mar 4. [Epub ahead of print]
11. Joseph CN, Porta C, et al. Slow Breathing Improves Arterial Baroreflex Sensitivity and Decreases Blood Pressure in Essential Hypertension, Hypertension 2005;46;714-718; originally published online Aug 29, 2005
12. Narkiewicz K et al. Sympathetic Neural Outflow and Chemoreflex Sensitivity Are Related to Spontaneous Breathing Rate in Normal Men. Hypertension 2006;47;51-55; originally published online Dec 12, 2005
13. Bernardi L, Porta C, Slow Breathing Increases Arterial Baroreflex Sensitivity in Patients With Chronic Heart Failure, Circulation 2002;105;143-145
14. Jimmy Moore “A Reader Asks ‘Does Acidic Blood Lead To Arterial Inflammation?’ Let’s Ask The Low-Carb Experts!”, published at http://livinlavidalowcarb.com/blog/?p=7270, in February 10, 2010:
15. Bernardi L, Gabutti A et al. Slow breathing reduces chemoreflex response to hypoxia and hypercapnia, and increases baroreflex sensitivity, Journal of Hypertension, V 19;I 12 - pp 2221-2229, 2001
16. Steinback C. et al. Hypercapnic vs. hypoxic control of cardiovascular, cardiovagal and sympathetic function, Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol 296: R402-R410, 2009
17. Drager LF, Bortolotto LA, Figueiredo AC, Krieger EM, Lorenzi-Filho G. Effects of continuous positive airway pressure on early signs of atherosclerosis in obstructive sleep apnea. Am J Respir Crit Care Med 2007; 176: 706–712.
18. Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)
19. Predominância do sistema nervoso simpático: o fator primário na cascata de eventos levando a espiral aterogênica. , Carlos Monteiro, 22 de Fevereiro de 2010 em http://teoriadaacidez.blogspot.com/2010/02/predominancia-do-sistema-nervoso.html
20. Hipertensão, aterosclerose, stress e ácido láctico, Carlos Monteiro, 25 de novembro de 2009, em http://teoriadaacidez.blogspot.com/2009/11/hipertensao-aterosclerose-stress-e.html
21. Cooper M, Aygen M. Transcendental Meditation in the management of hypercholesterolemia, Journal of Human Stress 1979; 5:24-27
22. Schneider RH, Staggers F, Alexander C, et al. A randomized controlled trial of stress reduction for hypertension in older African Americans. Hypertension 1995; 26: 820-827
23. Alexander C, Schneider RH, Staggers F. A trial of stress reduction for hypertension in older African Americans (part II); sex and risk factor subgroup analysis, Hypertension 1996; 28:228-237
24. Michael C. Dillbeck, David W Orme-Johnson. Physiological differences between meditation and rest. American Psychologist, Vol 42(9), Sep 1987, 879-881
25. The Effects of the Transcendental Meditation Technique on Common Risk Factors and Overall Health. Adapted from Chalmers, R. Scientific Research on Maharishi's Vedic Approach to Health: Part I Transcendental Meditation Introduction and Overview of Research, January 1998, at http://www.tm.cme.edu/article.pdf

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Apnéia obstrutiva do sono: Hipóxia intermitente leva a hiperatividade simpática e então ao processo aterosclerótico

A síndrome da apneia obstrutiva do sono (OSA) é causada pelo colapso das vias aéreas superiores durante a inspiração gerando hipoxemia, hipercapnia, acidose, ativação do sistema nervoso simpático, e de distúrbios no despertar do sono.
Um acúmulo de evidências mostra que a OSA é um fator de risco para a doença cardiovascular o que é suportado por estudos de associação epidemiológica. Estudos longitudinais de grupos também providenciam evidências de que pacientes com apnéia obstrutiva do sono severa, não tratada, têm um aumentada taxa de eventos cardiovasculares. A prevalência de doença arterial coronária é de 3 a 5 vezes maior em pacientes com OSA comparativamente com grupos de controle (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7).
A aterosclerose é reconhecida como o estágio precursor da doença coronário-miocárdica.
Um trabalho bastante recente publicado no Circulation (8), de longe o maior estudo realizado até o presente momento sobre o assunto, mostrou que a síndrome da apnéia obstrutiva de moderada a severa aumenta o risco da doença coronário-miocárdica ou de óbito em cerca de 70% em homens abaixo da idade de 70, mas não aumenta o risco para homens ou mulheres acima de 70. Um total de 1927 homens e de 2495 mulheres com 40 anos de idade e livres de doença coronária-miocárdica e de insuficiência cardíaca no tempo da linha de base, com relação à polissonografia, foram seguidos por uma média de 8.7 anos, neste estudo epidemiológico prospectivo longitudinal.
Um aumento na espessura da intima-média da carótida (IMT) e ocorrência de placas foi relatada em pacientes com OSA sem qualquer significante co-morbidade comparada como o grupo de controle (9, 10, 11, 12).
A prevalência de hipertensão é bastante alta e a incidência de hipertensão aumenta conforme o número de eventos apnéicos e hipopnéicos aumenta por hora. A associação de OSA e hipertensão têm efeitos aditivos no desenvolvimento de aterosclerose. A hipertensão durante o dia desenvolve de secundários a persistentemente elevados estados simpáticos (13). Em um recente estudo de 94 pacientes de meia idade, a espessura da intima-média da artéria carótida foi positivamente relacionada com a pressão sangüínea sistólica e índices de apnéa e hipopnéia (14).
Mecanismos fisiopatológicos vinculando OSA com a aterosclerose
Pacientes com OSA experimentam intermitente hipoxemia e retenção de CO2 que modificam as respostas autônomas e hemodinâmicas ao sono (15). De fato, a hipóxia intermitente crônica pode levar a hiperatividade simpática (16, 17). Um estudo demonstrou que em pacientes com eventos apnéicos moderados (duração < 20 segundos), o tratamento com 100% de oxigênio eliminou efetivamente a maior parte dos aumentos na atividade nervosa simpática (25). É interessante notar que o tratamento com o uso de pressão positiva contínua em via aérea (CPAP) pode reverter os sinais prematuros da aterosclerose (18). Existe uma crescente evidência de que a hipóxia intermitente é independentemente associada com dislipidemia (19). Em adição a dados clínicos, experimentos em animais também suportam o papel da hipóxia intermitente na patogênese da dislipidemia e respiração desordenada do sono (20, 21, 22). Os estudos mencionados acima confirmam antigos experimentos realizados em coelhos onde a deficiência de oxigênio foi atingida através da colocação dos animais diariamente em uma câmara com conteúdo reduzido de oxigênio (abaixo de 12%) por 3–6 horas, durante 4 meses. Nesses experimentos foi demonstrado que a hipóxia prolongada traz uma alta hipercolesterolemia além de intensificar grandemente o desenvolvimento de aterosclerose aórtica e coronária (26). A demonstração de que a hipóxia intermitente crônica pode levar a hiperatividade simpática e a dislipidemia adiciona mais evidência ao conceito da teoria da acidez (23), com a hipoxemia intermitente se juntando a outros fatores chave para a aterosclerose, como foi discutido recentemente nesse blog (24). Carlos Monteiro 1. Levy P, Pepin JL, McNicholas WT. Should all sleep apnoea patients be treated? Yes. Sleep Med Rev 2002; 6:17–26. 2. Marin JM, Carrizo SJ, Vicente E, Agusti AG. Long-term cardiovascular outcomes in men with obstructive sleep apnoea–hypopnoea with or without treatment with continuous positive airway pressure: an observational study. Lancet 2005; 365: 1046–1053. 3. Pepperell JC, Ramdassingh-Dow S, Crosthwaite N, et al. Ambulatory blood pressure after therapeutic and sub therapeutic nasal continuous positive airway pressure for obstructive sleep apnoea: a randomised parallel trial. Lancet 2002; 359: 204–210. 4. Marin JM, Carrizo SJ, Vicente E, Agusti AG. Long-term cardiovascular outcomes in men with obstructive sleep apnoea-hypopnoea with or without treatment with continuous positive airway pressure: an observational study. Lancet. 2005;365:1046-1053. 5. Unruh ML, Enright PL, Polak JF, et al. The relationship of sleep apnea to carotid wall thickness among a large cohort of older adults. Sleep. 2005;20:A112. 6. Peker Y, Hedner J, Kraiczi H, Loth S. Respiratory disturbance index: an independent predictor of mortality in coronary artery disease. Am J Respir Crit Care Med. 2000;162:81-86. 7 Mooe T, Franklin KA, Holmstrom K, Rabben T, Wiklund U. Sleep-disordered breathing and coronary artery disease: long-term prognosis. Am J Respir Crit Care Med. 2001;164:1910-1913. 8. Daniel J. Gottlieb et al. Prospective Study of Obstructive Sleep Apnea and Incident Coronary Heart Disease and Heart Failure. The Sleep Heart Health Study. Circulation, Published online before print July 12, 2010 9. Drager LF, Bortolotto LA, Lorenzi MC, Figueiredo AC, Krieger EM, Lorenzi-Filho G. Early signs of atherosclerosis in obstructive sleep apnea. Am J Respir Crit Care Med 2005; 172: 613–618. 10. Baguet JP, Hammer L, Levy P, et al. The severity of oxygen desaturation is predictive of carotid wall thickening and plaque occurrence. Chest 2005; 128: 3407–3412. 11. Minoguchi K, Yokoe T, Tazaki T, et al. Increased carotid intima–media thickness and serum inflammatory markers in obstructive sleep apnea. Am J Respir Crit Care Med 2005; 172: 625–630. 12. Baguet JP, Hammer L, Levy P, Pierre H, Launois S, Mallion JMv, et al. The severity of oxygen desaturation is predictive of carotid wall thickening and plaque occurrence. Chest 2005; 128: 3407-12. 13. Narkiewicz K, Somers VK. Sympathetic nerve activity in obstructive sleep apnoea. Acta Physiol Scand. 2003;177:385-390 14. Drager LF, Bortolotto LA, Krieger EM, Lorenzi-Filho G. Additive effects of obstructive sleep apnea and hypertension on early markers of carotid atherosclerosis. Hypertension 2009; 53 : 64-9. 15. Somers VK, Dyken ME, Mark AL, Abboud FM. Sympathetic nerve activity during sleep in normal subjects. N Engl J Med 1993; 328 : 303-7. 16. Johnson, T. S., J. B. Young, and L. Landsberg. Sympathoadrenal responses to acute and chronic hypoxia in the rat. J. Clin. Invest. 71: 1263-1272, 1983. 17. Greenberg HE, Sica A, Batson D, Scharf SM. Chronic intermittent hypoxia increases sympathetic responsiveness to hypoxia and hypercapnia. J Appl Physiol 1999; 86: 298–305, e http://jap.physiology.org/cgi/content/full/86/1/298
18. Drager LF, Bortolotto LA, Figueiredo AC, Krieger EM, Lorenzi-Filho G. Effects of continuous positive airway pressure on early signs of atherosclerosis in obstructive sleep apnea. Am J Respir Crit Care Med 2007; 176: 706–712.
19. Drager, Luciano F; Jun, Jonathan; Polotsky, Vsevolod Y. Obstructive sleep apnea and dyslipidemia: implications for atherosclerosis. Curr Opin Endocrinol Diabetes Obes. 2010 Apr;17(2):161-5.
20. Li J, Grigoryev DN, Y e SQ, Thorne L, Schwartz AR, Smith PL, et al. Chronic intermittent hypoxia upregulates genes of lipid biosynthesis in obese mice. J Appl Physiol 2005; 99 :1643-8.
21. Li J, Thorne LN, Punjabi NM, Sun CK, Schwartz AR, Smith PL, et al. Intermittent hypoxia induces hyperlipidemia in lean mice. Circ Res 2005; 97 : 698-706.
22. Li J, Savransky V, Nanayakkara A, Smith PL. O’Donnell CP, Polotsky VT. Hyperlipidemia and lipid peroxidation are dependent on the severity of chronic intermittent hypoxia. J Appl Physiol 2007; 102 : 557-63.
23. Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)
24. Predominância do sistema nervoso simpático: o fator primário na cascata de eventos levando a espiral aterogênica. , Carlos Monteiro, Fevereiro 22, 2010 em http://teoriadaacidez.blogspot.com/2010/02/predominancia-do-sistema-nervoso.html
25. Leuenberger U, Jacob E, Sweer L, Waravdekar N, Zwillich C, Sinoway L. Surges of muscle sympathetic activity during obstructive apnea are linked to hypoxemia. J Appl Physiol 1995
26. N. N. Kipshidze.The effect of oxygen deficiency on the development experimental atherosclerosis of the coronary arteries Bulletin of Experimental Biology and Medicine, Volume 47, Number 4, 447-453, 1958, DOI: 10.1007/BF00779624

terça-feira, 13 de julho de 2010

Antigos experimentos com coelhos e cães providenciam poderosa evidência para a Teoria da Acidez na Aterosclerose (1)

Segue resumo de 2 estudos desenvolvidos no início do século passado mostrando que coelhos e cães alimentados com ácidos podem desenvolver lesões ateroscleróticas:
1) Experimentos de Oswald Loeb, um conhecido professor de farmacologia e cientista da Universidade de Gotinga - Alemanha, demonstraram em estudo publicado em 1913, que coelhos e cães alimentados com ácido láctico resultaram em lesões ateroscleróticas nesses animais (2). O livro “Arteriosclerose e hipertensão“ (3), escrito pelo Dr. Louis M Warfield (Johns Hopkins), mostrou os seguintes comentários sobre os experimentos de Oswald Loeb:
“Oswald Loeb produziu mudanças nas artérias de coelhos alimentando-os com lactato de sódio (ácido láctico). Seus controles alimentados com outros ácidos se tornaram caquéticos, mas não mostraram mudanças arteriais. Ele encontrou a seguir que em 100 gm. de sangue humano existia normalmente de 15 a 30 mg. de ácido láctico. Após um trabalho árduo ele achou cerca de 150 gm. A arteriosclerose seria na verdade devida a presença de ácido láctico livre na circulação. Ele teve sucesso também em produzir lesões da intima em um cão alimentado por um longo tempo com dieta pobre em proteína, mais ácido láctico e lactato de sódio.”
2) O médico I. Adler, dos Laboratórios do Conselho de Saúde de Nova York, disse em seu trabalho intitulado “Estudos sobre a Aterosclerose Experimental” (4), publicado em 1913, que uma observação casual pelo Dr. P. A. Levene sugeriu o procedimento simples de adicionar acido hidroclórico na comida dos cães e como conseqüência produzir uma hiperacidez crônica. Isto levou Adler a incluir cães alimentados com ácidos em seus experimentos. Ele disse em seu trabalho que ainda que somente 2 cães tenham sido alimentados com ácido hidroclórico, apresentando afecções escleróticas, a possibilidade não pode ser negada, especialmente em vista dos numerosos resultados negativos com outros métodos, que esses resultados positivos não seriam meras coincidências, mas seriam provavelmente devido ao ácido hidroclórico. Referindo-se ao final de sua publicação quanto aos cães alimentados com ácidos apresentando lesões ateroscleróticas ele colocou “que o estudo estava sendo continuado e definitivas conclusões seriam prematuras naquele estágio; mas talvez pudesse ser permitido, mesmo naquele momento, aventurar a declaração de que com toda a probabilidade a teoria que baseia a aterosclerose como uma etiologia puramente mecânica não se provaria defensável". Continuando disse que "Se fatores mecânicos participassem de alguma forma, e se isso se confirmar, e em qual extensão, permaneceria a ser comprovado e que parecia quase certo, pelo menos no nosso presente estado de conhecimento, influências, sujeitas possivelmente a mais ou menos controle dos nervos, são fatores dominantes na etiologia da aterosclerose. Talvez seja descoberto também que o colesterol e suas varias modificações, enquanto indubitavelmente um elemento de importância na aterosclerose de coelhos e seres humanos, possa não ser o único fator etiológico predominante“. Ele termina dizendo que “Se houver comprovação de que um procedimento tão simples quanto adicionar certa proporção de ácido hidroclórico na comida de cães seja suficiente para produzir lesões dos vasos sangüíneos estreitamente análogos, se não totalmente idênticas com a aterosclerose humana, uma revisão de nossas teorias presentes se tornarão necessárias“.
Em nossa opinião os efeitos gerando lesões ateroscleróticas nesses experimentos foram causados não somente pela hiperacidez crônica nos coelhos e cães, mas também relacionadas a uma aguda ativação do sistema simpático provocada pela ingestão de ácidos.
Carlos Monteiro
1. Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)
2. Loeb, O., Ueber experimentelle Arterienveraender ungen mit besonderer Beruecksichtigung der Wirkung der Milchsaeure auf Grund eigener Versuche, Deutsch. med. Wchnschr., I913, xxxix, I819
3. Louis M Warfield, M. D., Third Edition, C. V. Mosby Company, 1920, with full free text at http://www.archive.org/stream/arteriosclerosis00warfuoft/arteriosclerosis00warfuoft_djvu.txt
4. I. Adler, “Studies in Experimental atherosclerosis - A preliminary report“, The Journal of Experimental Medicine, 1913. Free full text at http://jem.rupress.org/content/20/2/93.full.pdf

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O fumo de cigarros no desenvolvimento e progressão da aterosclerose: É a hiperatividade do sistema simpático, fator chave que explica essa associação?

A hiperatividade do sistema simpático parece, dentro de nosso ponto de vista (1), ser o fator chave no fumo de cigarros como responsável pelo desenvolvimento e progressão da aterosclerose.
O fumo de cigarros aumenta de forma aguda o tráfico nervoso simpático pela via eferente, como também a liberação de noradrenalina e adrenalina. Os efeitos adversos do fumo de cigarros estão relacionados a uma mistura de químicos, inclusive da nicotina, a qual tem sido largamente acusada por muitos desses efeitos do fumo sobre o sistema cardiovascular, incluindo o desequilíbrio do sistema autônomo, disfunção endotelial, e desregulação do fluxo sangüíneo coronário. Os efeitos simpático-excitatórios agudos do fumo sobre o sistema cardiovascular são parcialmente mediados pela liberação de catecolaminas, excitação nervosa simpática do músculo e aumento da sensibilidade do receptor químico, consecutivo a estimulação do receptor nicotínico no sistema nervoso autônomo (2).
Tanto o fumante ativo quanto a exposição ambiental ao fumo de tabaco estão associados com a progressão de aterosclerose como é demonstrado pelo indice de espessura da média-intima avaliada por ultrasom (8)
É interessante notar quanto aos resultados de um estudo publicado em 2006 o qual revelou que a administração sublingual de um tablete de 4-mg de Terapia de Reposição de Nicotina exerce efeitos deletérios no sistema cardiovascular e ativação do sistema simpático (3).
Também interessante é o alto conteúdo de açúcar (de até 20% - incluindo xarope de milho com alto nível de frutose) nas marcas populares de cigarros (4,5). Açucares e outras dietas a base de alto teor de carboidratos, particularmente na forma de carboidratos com alto índex glicêmico, podem também contribuir para a manutenção da hiperatividade do sistema nervoso simpático, como foi discutido recentemente neste blog (6,7).
Carlos Monteiro
1. Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)
2. Adamopoulus D, van de Borne P and Argacha JF, New insights into the sympathetic, endothelial and coronary effects of nicotine. Clin Exp Pharmacol Physiol 2008; 35(4): 458-63
3. Najem B et al. Acute cardiovascular and sympathetic effects of nicotine replacement therapy. Hypertension 2006; 47:1162-67 Full free text at http://hyper.ahajournals.org/cgi/content/full/47/6/1162
4. Elson LA, Betts TE, Passey RD, The sugar content and the pH of the smoke of cigarette, cigar, and pipe tobbacos in relation to lung cancer. International Journal of Cancer, V 9, I 3; 666-675, 1972
5. Stavanja et al. Safety assessment of high fructose corn syrup (HFCS) as an ingredient added to cigarette tobacco. Exp Toxicol Pathol, 57(4): 267-81, 2006
6. Koop W. Chronically increased activity of the sympathetic nervous system: our diet-related “evolutionary” inheritance. The Journal of Nutrition, Health & Aging Volume 13, Number 1, 2009
7. Carlos Monteiro, Carboidratos fermentáveis: Um vínculo entre a doença periodontal e a doença cardiovascular? 14 de abril de 2010 em http://teoriadaacidez.blogspot.com/2010/04/carboidratos-fermentaveis-um-vinculo.html
8. Howard G et al, Cigarette smoking and progression of atherosclerosis: The Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC) Study. JAMA, 1998 Jan 14;279(2):119-24. Full free text at http://jama.ama-assn.org/cgi/reprint/279/2/119.pdf

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Carboidratos fermentáveis: Um vínculo entre a doença periodontal e a doença cardiovascular?

O primeiro trabalho indicando um vínculo entre a doença dental e a doença cardíaca foi escrito por Cleave e Campbell em 1966. No artigo esses pesquisadores postularam que carboidratos excessivamente fermentáveis poderiam levar tanto a doença dental quanto a doenças sistêmicas (1). Yudkin, partilhando da mesma opinião de Cleave, escreveu em 1972: “Minha pesquisa sobre a doença coronária me convenceu além de qualquer dúvida que o açúcar participa de uma considerável parte nessa aterradora epidemia” (2). Enquanto ambos Cleave and Yudkin tinham distintas hipóteses a respeito de quais carboidratos dietéticos causavam doenças sistêmicas, eles estavam unificados quanto à significância de carboidratos dietéticos altamente glicêmicos para as doenças dentais. De acordo com suas hipóteses ambas as doenças dentais e sistêmicas aconteciam devido a uma ingestão em excesso de carboidratos fermentáveis, sendo a doença dental um marcador prematuro de doenças sistêmicas, que deveria primariamente ser prevenida pela restrição de carboidratos fermentáveis.
Hujoel, em um excelente trabalho de revisão publicado em 2009 (3), diz que:“Em favor da hipótese de Cleave-Yudkin’s está a capacidade de predizer e explicar as associações das doenças dental-sistêmicas as quais eram desconhecidas quando a hipótese foi formulada. É conhecido agora, por exemplo, que marcadores do metabolismo anormal da glicose, tais como altos níveis de produtos finais de glicação avançada ou pós-carga de concentração de glicose no plasma, têm sido relacionados a diversos resultados sistêmicos como, por exemplo, a doença cardiovascular (Jandeleit-Dahm and Cooper, 2008). Similarmente, quanto mais a dieta gera uma queda no pH da placa dental, mais ela estimula os níveis de glicose sangüínea, providenciando um elegante modelo de plausibilidade biológica para a hipótese de Cleave-Yudkin, de que caries dentais são um sinal de alarme para doenças sistêmicas (Lingström et al., 1993)”.
Confirmando a hipótese de Cleave-Yudkin, um estudo italiano publicado na semana passada mostrou que uma dieta com carga altamente glicêmica e ingestão de carboidratos de alimentos com alto índice glicêmico aumenta o risco total de doença cardiovascular na mulher, mas não no homem. Na prática o estudo mostrou que mulheres que comem muito mais pão branco, arroz branco, pizza, e outros alimentos ricos em carboidratos, que causam a estimulação do açúcar no sangue, são possivelmente mais de duas vezes de terem risco de desenvolverem doença cardíaca, do que mulheres que ingerem menos desses alimentos. Esse estudo que envolveu 47.749 voluntários (15.171 homens e 32.578 mulheres), os quais completaram o questionário dietético, teve uma duração média de 7.9 anos de seguimento com 463 casos de doença cardiovascular (158 mulheres e 305 homens) identificados. Os autores disseram em seu artigo que uma possível razão para o fracasso de se achar uma associação entre uma dieta altamente glicêmica e doença cardiovascular entre os homens poderia ser que mudanças adversas do colesterol HDL no plasma e níveis de triglicérides, como um resultado da dieta altamente glicêmica, são fatores de risco mais fortes nas mulheres do que nos homens (4).
É interessante notar que dietas com alto teor de carboidratos, particularmente na forma de carboidratos com alto índex glicêmico podem manter o sistema nervoso simpático hiperativo (5). Também que dietas com alto teor de carboidratos podem aumentar significativamente a atividade de desidrogenase láctica no soro sangüíneo (6).
Todos os pontos citados acima fornecem evidências para a nossa teoria da acidez na aterosclerose (6).
Tratamento da doença periodontal na prevenção da aterosclerose
Alguns estudos recentes mostraram que o tratamento da doença periodontal resulta em benefícios para a prevenção da aterosclerose. Tonetti e colegas mostraram que no tratamento periodontal intensivo, após 6 meses da terapia, os benefícios na saúde oral foram associados com melhoria na função endotelial (7). Piconi e colegas confirmaram que o tratamento da doença periodontal além de resultar em melhorias na disfunção endotelial também reduz a espessura da intima-média da carótida. Os autores desse trabalho concluíram que seus resultados oferecem suporte para a hipótese de que a doença periodontal predispõe a aterosclerose, jogando alguma luz sobre os mecanismos possivelmente associados com essa hipótese e reforçando a idéia de que a aterosclerose é uma doença imune-mediada (8).
Uma hipótese alternativa
Tomando em vista que alguns fatores de risco como, por exemplo, hábito de fumar, estresse, genética, aumento na idade, e ingestão de dietas com alto teor de carboidratos contribuem tanto para a periodontite quanto para a doença cardiovascular, nós temos uma hipótese alternativa através dos seguintes mecanismos:
- Uma rua de mão dupla -
1) De um lado o transporte da boca diretamente para a circulação sangüínea, através de via sublingual, de açucares relacionados a dietas com alto teor de carboidratos, levando a hiperatividade do sistema nervoso simpático e então ao processo aterosclerótico. Essa idéia está baseada no uso regular da via sublingual com difusão diretamente na circulação venosa para rápidos efeitos de remédios, incluindo drogas cardiovasculares.
2) De outro lado as concentrações de saliva representando um mistura de respostas inflamatórias crônicas locais mais a acidez de outras condições do organismo derivadas na sua maior parte de estresse crônico, ao lado de outros fatores causando a acidez e expressados por marcadores de acidez sangüínea, desidrogenase láctica, de atividade do sistema nervoso simpático, e de atividade do eixo hipotalâmico-pituitária-adrenal. A nosso ver essa segunda via pode também contribuir para a doença dental.
Carlos Monteiro
1. Cleave TL, Campbell GD (1966). Diabetes, coronary thrombosis, and the saccharine disease Bristol,: Wright
2. Yudkin J (1972b). Sweet and dangerous; the new facts about the sugar you eat as a cause of heart disease, diabetes, and other killers. New York: P.H. Wyden, Inc.
3. Hujoel P, Dietary Carbohydrates and Dental-Systemic Diseases, J Dent Res 2009; 88; 490. Abstract at http://jdr.sagepub.com/cgi/content/abstract/88/6/490
4. Sabina Sieri,Vittorio Krogh, et al . Dietary Glycemic Load and Index and Risk of Coronary Heart Disease in a Large Italian Cohort, EPICOR Study. Arch Intern Med. 2010;170(7):640-647
5. Koop W. Chronically increased activity of the sympathetic nervous system: our diet-related “evolutionary” inheritance. The Journal of Nutrition, Health & Aging Volume 13, Number 1, 2009
6. Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)
7. Tonetti MS et al. Treatment of Periodontitis and Endothelial Function, NEJM - Volume 356:911-920, March 1, 2007
8. Piconi S et al.Treatment of periodontal disease results in improvements in endothelial dysfunction and reduction of the carotid intima-media thickness. FASEB J. 23, 1196–1204 (2009)

domingo, 28 de fevereiro de 2010

O vínculo entre a poluição do ar e a aterosclerose: Qual a correta explicação biológica?

Estudos têm mostrado consistentemente que as exposições de partículas finas (PM) de poluição do ar, tanto em curto prazo quanto no longo prazo, estão associados com diversas doenças cardiovasculares, incluindo isquemia miocárdica e infartos, insuficiência cardíaca, arritmias, derrames e aumentada mortalidade cardiovascular.
Muito recentemente foi publicado estudo em humanos confirmando a associação da exposição da poluição do ar ambiente e aterosclerose através da progressão da espessura da íntima-média da carótida (1).
Em um recente e interessante trabalho de Robert Brook (2) ele coloca que existem três pressupostos caminhos para explicar os mecanismos biológicos onde a exposição a partículas finas podem ser capazes de mediar eventos cardiovasculares: 1) mecanismos relacionados ao sistema nervoso autônomo: parassimpático desativado e/ou ativação simpática; 2) a liberação de circulação de pró-oxidativos e/ou mediadores pró-inflamatórios dos pulmões (por exemplo citocinas e células imunes ativadas) dentro da circulação sistêmica, seguinte a inalação de partículas finas que, por sua vez, mediam indiretamente as respostas cardiovasculares; e 3) partículas em escala nanométrica e/ou constituintes de partículas solúveis que se transportam dentro da circulação sistêmica após a inalação que então interagem diretamente com o sistema cardiovascular. De acordo com o Robert Brook, ações crônicas de PM e a intensificação de aterosclerose, são mais possíveis de serem induzidas pela geração de estados pró-inflamatórios crônicos (caminho 2).
Tendo em vista os resultados de estudos em humanos mostrando que a contínua exposição de partículas de poluidores do ar pode decrescer a variabilidade na freqüência cardíaca (3,4) e levar a um controle do sistema autônomo alterado, com potencial aceleração na progressão de aterosclerose (5,6,7), nos sentimos obrigados, com o devido respeito, a divergir da opinião de Brook a respeito do mecanismo biológico relacionado com a exposição crônica de partículas de poluição do ar e aterosclerose.
Dentro de nosso ponto de vista a hiperatividade do sistema simpático pode dar início ao processo aterosclerótico o qual leva no final ao estado inflamatório como é postulado na teoria da acidez na aterosclerose (6), assunto discutido recentemente em artigo nesse blog (7)
Carlos Monteiro
1. Nino Kunzli, Michael Jerrett, Raquel Garcia-Esteban, Xavier Basagana, Bernardo Beckermann, Frank Gilliland, Merce Medina, John Peters, Howard N. Hodis, Wendy J. Mack. "Ambient Air Pollution and the Progression of Atherosclerosis in Adults." PloS ONE 5(2): e9096. doi:10.1371/journal.pone.0009096, February 8, 2010. Full free text at http://www.plosone.org/article/info:doi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0009096
2. Brook RD, Cardiovascular effects of air pollution. Clinical Science (2008) 115, (175–187) Full free text at http://www.clinsci.org/cs/115/0175/1150175.pdf
3. Duanping Liao, Yinkang Duan, Eric A. Whitsel, Zhi-jie Zheng, Gerardo Heiss, Vernon M. Chinchilli, and Hung-Mo Lin. Association of Higher Levels of Ambient Criteria Pollutants with Impaired Cardiac Autonomic Control: A Population-based Study, Am J Epidemiol 2004;159:768–777
4. C. Arden Pope III, Matthew L. Hansen, Russell W. Long, Karen R. Nielsen, Norman L. Eatough, William E. Wilson, and Delbert J. Eatough. Ambient Particulate Air Pollution, Heart Rate Variability, and Blood Markers of Inflammation in a Panel of Elderly Subjects. Environmental Health Perspectives, V 112; N 3: March 2004
5. Heikki V. Huikuri; Vesa Jokinen; Mikko Syvänne; Markku S. Nieminen; K. E. Juhani et al, Heart Rate Variability and Progression of Coronary Atherosclerosis. Arteriosclerosis, Thrombosis, and Vascular Biology. 1999;19:1979-1985.
6. Anders Gottsäter , Åsa Rydén Ahlgren, Soumia Taimour and Göran Sundkvist, Decreased heart rate variability may predict the progression of carotid atherosclerosis in type 2 diabetes Clinical Autonomic Research Volume 16, Number 3 / June, 2006
7. J. C. Longenecker, M. Zubaid, K.V. Johny, A.I. Attia, J. Ali, W. Rashed, C.G. Suresh, M. Omar. Association of low heart rate variability with atherosclerotic cardiovascular disease in hemodialysis patients. Med Princ Pract 2009;18:85-92
8. Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)
9. Predominância do sistema nervoso simpático: o fator primário na cascata de eventos levando a espiral aterogênica. , Carlos Monteiro, Monday, February 22, 2010 at http://teoriadaacidez.blogspot.com/2010/02/predominancia-do-sistema-nervoso.html

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Predominância do sistema nervoso simpático: o fator primário na cascata de eventos levando a espiral aterogênica.

Foi descoberto que a hiperatividade do sistema nervoso simpático (SNS) está associada com a pressão sangüínea e anormalidade nos lipídeos (1,2,3). Nessa direção um recente estudo demonstrou que a hiperatividade do simpático pode favorecer o desenvolvimento de hipertensão sustentada e hipercolesterolemia cedo na vida, e levar a uma aumentada susceptibilidade quanto a complicações vasculares (4).
De fato, a acumulação de dados coletados em animais e humanos sugerem que a síndrome metabólica está associada com marcadores de hiperatividade adrenérgica. Diversos marcadores de hiperatividade adrenérgica tais como noradrenalina no plasma, a liberação de noradrenalina nos terminais nervosos adrenérgicos, freqüência cardíaca e outros, têm mostrado um aumento nas diferentes condições de síndrome metabólica como nos estados de obesidade, hipertensão e de resistência à insulina (5,6). Evidências também têm mostrado que a ativação simpática participa no desenvolvimento de danos de órgãos relacionados à hipertensão, tais como a disfunção diastólica ventricular esquerda (7).
É bem estabelecido que a atividade do SNS seja influenciada também pela ingestão de alimentos, e que a composição da dieta tem um importante papel nesse caso. O que é interessante notar é que, entre os tipos de dieta, a ingestão de carboidratos (amido e açucares) significantemente aumenta a atividade do SNS, especialmente em carga altamente glicêmica, com efeitos deletérios com relação à saúde humana (8). De outro lado a ingestão de proteínas ou de gorduras não tem um significativo efeito de excitação do simpático (9,10,11).
As evidências acima mencionadas ajudam a fortalecer nossos pontos de vista quanto a teoria da acidez na aterosclerose, onde o estresse contínuo é colocado como o mais importante fator de risco (12). Entretanto, isso não enfraquece o valor de outros fatores chave como expressado em nossa monografia:
“A teoria da acidez na aterosclerose não subestima a importância de outros fatores chave como envelhecimento, dieta inapropriada, estilo de vida, poluição ambiental, inatividade física, fumo, e predisposição genética. No entanto, a maioria desses fatores de risco pode resultar em um sistema nervoso autônomo alterado, tendência ao simpático, aumento na produção de ácido láctico e ambiente ácido, propiciando aterosclerose como resultado. Nossa proposta pode se estender a quaisquer distúrbios respiratórios ou metabólicos resultando em acidose.”
Carlos Monteiro
1. Masuo K, Mikami H, Ogihara T, Tuck ML. Sympathetic nerve hyperactivity precedes hyperinsulinemia and blood pressure elevation in a young, nonobese Japanese population. Am J Hypertens 1997; 10:77–83.
2. Nakao M, Nomura K, Karita K, Nishikitani M, Yano E. Relationship between brachial-ankle pulse wave velocity and heart rate variability in young Japanese men. Hypertens Res 2004; 27:925–931.
3. Arner P, Wahrenberg H, Lonnqvist F, Angelin B. Adipocyte betaadrenoceptor sensitivity influences plasma lipid levels. Arterioscler Thromb Vasc Biol 1993; 13:967–972.
4. Palatini P, Longo D, Zaetta V, Perkovic D, Garbelotto R and Pessina AC. Evolution of blood pressure and cholesterol in stage 1 hypertension: role of autonomic nervous system activity. Journal of Hypertension 2006, 24:1375-1381
5. Mancia G, Bousquet P et al. The sympathetic nervous system and the metabolic syndrome. Journal of Hypertension 2007, 25 (5):909-920
6.Grassi G, Quarti-Trevano F et al. Cariovascular risk and adrenergic overdrive in metabolic syndrome. Nutr Metab Cardiovasc Dis 2007, 17(6): 473-81
7. Grassi G, Seravalle G et al. Sympathetic and baroreflex cardiovascular control in hypertension-related left ventricular dysfunction. Hypertension 2009;53:205-209. Full free paper at http://hyper.ahajournals.org/cgi/content/full/53/2/205
8. Koop W. Chronically increased activity of the sympathetic nervous system: our diet-related “evolutionary” inheritance. The Journal of Nutrition, Health & Aging Volume 13, Number 1, 2009
9. Welle S, Ulavivat U, Campell G. Thermic effect of feeding in men: Increased plasma norepinephrine levels following glucose but not protein or fat consumption. Metabolism 1981; 30: 953-958
10. Welle SL, Lilavivathana U,Campell RG. Increased plasma nor epinephrine concentrations and metabolic rates following glucose ingestion in man. Metabolism 1980; 29: 806-09
11. Tentolouris N, Tsigos D, Perea E et al. Differential effect of high-fat and high carbohydrate isoenergetic meals on cardiac autonomic nervous system activity in lean and obese women. Metabolism 2003; 52: 1426-32
12. Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Afinal, o que provoca a elevação dos níveis de colesterol no sangue?

Seguem alguns fatores apontados na literatura médica, além da famigerada, mas errada e simplista idéia de que alimentos baseados em gorduras saturadas causam o desenvolvimento da aterosclerose (1, 22, 23), sugerindo que o estresse, dietas com alto teor de carboidratos e o fumo podem elevar os níveis de colesterol total e de lipoproteinas de baixa densidade:
1. O estresse (Uma resposta física ou emocional que o organismo desenvolve quanto a pressão do mundo externo)
a) A ansiedade e a elevação do colesterol (2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11)
b) A hostilidade e a elevação do colesterol (12, 13, 14)
c) Exercícios físicos intensos e a elevação do colesterol (15)
2) Dieta a base de alto teor de carboidratos e a elevação do colesterol (16, 17, 18).
3) O fumo e a elevação do colesterol (19, 20).
É interessante notar que, especialmente no estresse e na dieta com alto teor de carboidratos existe uma significativa elevação de ácido láctico no sangue, com paralela elevação nos níveis de colesterol no plasma representando, ao nosso ver, uma resposta curativa do organismo à lesão endotelial vascular (21).
Como o Dr. Malcolm Kendrick, nosso colega no "The International Network of Cholesterol Skeptics (THINCS), costuma dizer: "Os cigarros contêm gorduras? Não, de maneira nenhuma. Então, como pode o fumo de um cigarro, que não contêm gordura ou colesterol, depositar gordura e colesterol na parede das artérias. Qual é o mecanismo para que isso aconteça?"
A propósito, em um recente trabalho os autores avaliaram todas as intervenções dietéticas usando colesterol na dieta (CD) ou ovos e apresentaram suas próprias conclusões. Eles assinalaram que os resultados de curto prazo onde existe um aumento do colesterol no plasma com CD deveria ser interpretado com precaução porque eles diferem de efeitos em longo prazo onde não existe relação entre CD e colesterol no plasma (22).
Carlos Monteiro
Nota:
Uma recente meta analise de estudos epidemiológicos prospectivos durante 5–23 anos de seguimento de 347.747 pessoas mostrou que não existe significativa evidência para concluir que dietas a base de gorduras saturadas estão associadas com um aumento no risco de doença cardiovascular. Considerações quanto à idade, sexo, e qualidade do estudo não mudaram os resultados (23).
1. O colesterol é inocente!, ICP em http://www.infarctcombat.org/polemica-45/icem.html 2) Changes in plasma lipids with psychosocial stress are related to hypertension status and the norepinephrine stress response. Wirtz PH, Ehlert U, Bärtschi C, Redwine LS, von Känel R. Metabolism. 2009 Jan;58(1):30-7.
3. Effects of hemoconcentration and sympathetic activation on serum lipid responses to brief mental stress, Elizabeth A. Bachen, Matthew F Muldoon et al, Psychosomatic Medicine 64:587-594 (2002)
4. Serum lipids, neuroendocrine and cardiovascular responses to stress in healthy Type A men, Fredrikson M, Blumenthal JA, Biol Psychol. 1992 Oct;34(1):45-58
5. Factors associated with the development of panic attack and panic disorder: survey in the Japanese population Kaiya H et al. Psychiatry Clin Neurosci. 2005 Apr;59(2):177-82a
6. Changes in mental well-being, blood pressure and total cholesterol levels during workplace reorganization: the impact of uncertainty, Taylor & Francis V15, N1 January 1, 2001: 14-18
7. Examination stress: changes in serum cholesterol, triglycerides and total lipids. Agarwal V, Gupta B, Singhal U, Bajpai SK. Indian J Physiol Pharmacol. 1997 Oct;41(4):404-8.
8. Wives of patients with acute myocardial infarction are at an increased risk of developing coronary artery disease, Papamichael Ch et al, J Cardiovasc Risk. 2002 Feb;9(1):49-52
9. Lipid reactivity to stress: I. Comparison of chronic and acute stress responses in middle-aged pilots, Stoney CM et al, Health Psychol. 1999 May;18(3):241-250
10. Associations between acute lipid stress responses and fasting lipid levels 3 years later, Andrew Steptoe and Lena Brydon, Health Psychology 2005, Vol. 24, No. 6, 601-607
11. Effect of preoperative stress on serum cholesterol level in humans. Sane AS, Kukreti SC, Experientia. 1978 Feb 15; 34(2): 213-4
12. Prevalence of hostility in young coronary artery disease patients and effects of cardiac rehabilitation and exercise training, Lavie CJ, Milani RV, Mayo Clin Proc. 2005 Mar;80(3):335-42
13.Richards JC, Hof A, Alvarenga M. Serum lipids and their relationships with hostility and angry affect and behaviors in men.Health Psychol. 2000 Jul;19(4):393-8.
14. Hostility-related differences in the associations between stress-induced physiological reactivity and lipid concentrations in young healthy women.Suarez EC, Harralson TL. Int J Behav Med. 1999;6(2):190-203.
15. Changes in lipoprotein profiles during intense military training. B. L. Smoak, J. P. Norton, E. W. Ferguson and P. A. Deuster. Journal of the American College of Nutrition, Vol 9, Issue 6 567-572
16. Metabolic effects of dietary fructose in healthy subjects.Swanson JE, Laine DC, Thomas W, Bantle JP. Am J Clin Nutrition 1992;55:851-6
17. Blood lipids, lipoproteins, apoproteins, and uric acid in men fed diets containing fructose or high-amylose cornstarch. Reiser S. Powell AS, Scholfield DI. Panda P. Ellwood KC. Canary II. Am J Clin Nutr 1989:49:832-9.
18. Hallfrisch J, Reiser 5, Prather ES. Blood lipid distribution of hyperinsulinemic men consuming three levels of fructose. Am J Clin Nutr 1983:37:740-8.
19. The Relationship Between Smoking, Cholesterol, and HDL-C Levels in Adult Women
Bert H. Jacobson; Steven G. Aldana; Troy B. Adams; Michael Quirk; Haworth, Women & Health, Volume 23, Issue 4 July 1996 , pages 27 - 38
20. Smoking and smoking cessation -- the relationship between cardiovascular disease and lipoprotein metabolism: a review. Chelland Campbell S, Moffatt RJ, Stamford BA. Atherosclerosis. 2008 Dec;201(2):225-35
21. Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)
22. Conti AA, Dilaghi B, Modesti PA, Nozzoli C: New evidence in cardiovascular medicine, general practice and public health. Intern Emerg Med 2009, 4:343–345.
23. Patty W Siri-Tarino, Qi Sun, Frank B Hu, and Ronald M Krauss. Meta-analysis of prospective cohort studies evaluating the association of saturated fat with cardiovascular disease. Am J Clin Nutr doi: 10.3945/ajcn.2009.27725. First published ahead of print January 13, 2010

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O vínculo entre a psoríase e a aterosclerose: Um mistério não resolvido?

Durante os últimos anos diversos estudos relataram que pacientes com psoríase têm maior possibilidade com relação a fatores de risco cardiovasculares tradicionais, como por exemplo, hiperlipidermia, hipertensão, diabetes, obesidade, serem fumantes, e de terem uma história de infarto do miocárdio prévio (1, 2).
Um estudo bastante recente sugeriu que os pacientes com psoríase têm maior propensão para doença da artéria coronária, doença vascular cerebral e doença vascular periférica, resultando em uma aumentada mortalidade. Esse estudo comparou taxas de doenças cardíacas, de doenças relacionadas a acidente vascular cerebral, de doenças vasculares periféricas e de óbito entre 3.236 pessoas com psoríase (a maioria eram homens entre 50-60 anos) e 2.500 pessoas sem essa condição. O total de pessoas com psoríase era aproximadamente o dobro com probabilidade de serem diagnosticados com doença cardíaca, acidente vascular cerebral ou doenças vasculares periféricas. Mais ainda, 19.6% das pessoas com psoríase faleceram durante o estudo, comparativamente com 9.9% dos participantes os quais não tinham psoríase (3).
Na realidade, muitos estudos recentes estão mostrando a prevalência de aterosclerose subclínica em pacientes com psoríase, comparados a pacientes saudáveis, através de um marcante aumento na espessura da intima-média da carótida, medida pela ultrasonografia (4,5,6 ,7,8).
Também, um dos estudos mostrou que a aterosclerose subclínica nos pacientes com psoríase está significativamente associada com o aumento nos níveis de açúcar e de triglicérides (6)
Outros estudos têm mostrado que sistemas metabólicos podem sofrer distúrbios na associação com psoríase, com muitos componentes formados em excesso de glicose, como por exemplo ácido láctico (9). É interessante notar que Boyd e Menter descobriram que 13 (62%) de 21 pacientes com eritroderma, a mais severa forma de psoríase, tiveram uma elevada desidrogenase láctica no plasma (10). Outro estudo indicou um desvio da atividade enzimática da desidrogenase láctica em eritrócitos nos pacientes com psoríase na direção de LDH2 e LDH1, e conseqüentemente uma produção de energia ampliada por oxidação nesses pacientes com psoríase, quando comparada com os pacientes sem psoríase (11).
De acordo com pesquisadores o mecanismo pelo qual a aterosclerose prematura se desenvolve na psoríase permanece como um mistério não resolvido, se tornando o foco corrente para uma ulterior elucidação da fisiopatologia subjacente conectando estas duas doenças (12).
Tomando em vista os achados acima penso que a teoria da acidez pode oferecer um válido e potencial mecanismo fisiopatológico para explicar o vínculo da psoríase com a aterosclerose (13).
Carlos Monteiro
1) Matthew Meier and Pranav B. Sheth, Clinical Spectrum and Severity of Psoriasis. Curr Probl Dermatol. Basel, Karger, 2009, vol 38, pp 1–20. Full free paper at http://www.online.karger.com/ProdukteDB/Katalogteile/isbn3_8055/_91/_51/CUPDE38_02.pdf
2) Mehta NN, Azfar RS, Shin DB, Neimann AL, Troxel AB, Gelfand JM. Patients with severe psoriasis are at increased risk of cardiovascular mortality: cohort study using the General Practice Research Database. Eur Heart J. 2009 Dec 27.
3) Prodanovich S, Kirsner RS, Kravetz JD, Ma F, Martinez L, Federman DG.. Association of psoriasis with coronary artery, cerebrovascular, and peripheral vascular diseases and mortality. Arch Dermatol. 2009 Jun;145(6):700-3.
4) El-Mongy S, Fathy H, Abdelaziz A, Omran E, George S, Neseem N, El-Nour N. Subclinical atherosclerosis in patients with chronic psoriasis: a potential association. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2009 Nov 2
5) Balci DD, Balci A, Karazincir S, Ucar E, Iyigun U, Yalcin F, Seyfeli E, Inandi T, Egilmez E. Increased carotid artery intima-media thickness and impaired endothelial function in psoriasis. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2009 Jan;23(1):1-6.
6) Tam LS, Shang Q, Li EK, Tomlinson B, Chu TT, Li M, Leung YY, Kwok LW, Wong KC, Li TK, Yu T, Zhu TY, Kun EW, Yip GW, Yu CM. Subclinical carotid atherosclerosis in patients with psoriatic arthritis. Arthritis Rheum. 2008 Sep 15;59(9):1322-31.
7) Eder L, Zisman D, Barzilai M, Laor A, Rahat M, Rozenbaum M, Bitterman H, Feld J, Rimar D, Rosner I. Subclinical atherosclerosis in psoriatic arthritis: a case-control study. J Rheumatol. 2008 May;35(5):877-82.
8) Gonzalez-Juanatey C, Llorca J, Amigo-Diaz E, Dierssen T, Martin J, Gonzalez-Gay MA. High prevalence of subclinical atherosclerosis in psoriatic arthritis patients without clinically evident cardiovascular disease or classic atherosclerosis risk factors. Arthritis Rheum. 2007 Aug 15;57(6):1074-80.
9) Meynadier J, Guilhou JJ, The biochemistry of psoriasis. Ann Dermatol Syphiligr (Paris). 1976;103(5-6):525-45.
10) A. Boyd, A. Menter, Erythrodermic psoriasis: Precipitating factors, course, and prognosis in 50 patients.Journal of the American Academy of Dermatology, 1989, Volume 21, Issue 5, Pages 985-991
11) Malina L, Volek V, Bielicky T. The activity of lactate dehydrogenase in the erythrocytes in psoriasis. Z Haut Geschlechtskr. 1969 Oct 1;44(19):877-9.
12) Shelling ML, Federman DG, Prodanovich S, Kirsner RS. Psoriasis and vascular disease: an unsolved mystery. Am J Med. 2008 May;121(5):360-5.
13) Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Acidez: O vínculo entre a aterosclerose e a osteoporose.

Embora a prevalência de que tanto a aterosclerose quanto a osteoporose aumentem com a idade, várias e cumulativas evidências indicam, desde as pesquisas iniciais (1, 2), uma mais direta relação entre essas duas condições. Confirmando esta associação, muitos estudos recentes têm mostrado um aumento na espessura da intima-media da carótida, um marcador para a aterosclerose, entre mulheres quando desenvolvem osteoporose (3, 4).
Um estudo bastante recente relatou que a fratura da bacia é entre duas e cinco vezes mais comum em pessoas com doença cardiovascular do que aquelas sem história da doença. Os pesquisadores deste estudo também acharam que os bisfosfonatos não somente diminuem a progressão da osteoporose, mas também previnem o desenvolvimento da aterosclerose e reduzem a taxa total de mortalidade (5). A respeito desse ponto, é interessante notar que os bisfosfonatos podem reduzir uma elevada produção de ácido láctico no organismo (6) o que permite ao conceito da teoria da acidez (7) tornar-se uma forte explicação para o vínculo entre a aterosclerose e a osteoporose, tendo em vista a proposição de A. Wachman e D.S. Bernstein feita em 1968 (8), e endossada por outros (9), de que o corpo extrai mineral dos ossos para neutralizar desafios ácidos ou alcalinos.
A propósito, um editorial publicado no New England Journal of Medicine (Bone, Acid, and Osteoporosis, New England Journal of Medicine, V 330:1821-1822 , June 23, 1994) traz a seguinte citação e comentários:
"A vida é uma luta, não contra o pecado, não contra a força do dinheiro, não contra o malicioso magnetismo animal, mas contra os íons de hidrogênio" (Mencken H L. Exeunt omnes. Smart Set. 1919; 60: 138–145). Essas palavras escritas por H.L. Mencken sobre o significado da vida e da morte, também podem ser aplicados a luta do esqueleto saudável contra os efeitos deletérios do ácido retido.
Carlos Monteiro
1) Dent CE, Engelbrecht HE, Godfrey RC. Osteoporosis of lumbar vertebrae and calcification of abdominal aorta in women living in Durban. Br Med J. 1968;4:76-79.
2. Fujita T, Okamoto Y, Sakagami Y, Ota K, Ohata M. Bone changes and aortic calcification in aging inhabitants of mountain versus seacoast communities in the Kii Peninsula. J Am Geriatr Soc. 1984;32:124-128
3) J. Tamaki , M. Iki, Y. Hirano, Y. Sato, E. Kajita, S. Kagamimori, Y. Kagawa and H. Yoneshima. Low bone mass is associated with carotid atherosclerosis in postmenopausal women: The Japanese Population-based Osteoporosis (JPOS) Cohort Study , Osteoporosis International, V 20, N 1 / January, 2009
4) Hiroyuki Sumino, Shuichi Ichikawa, Shu Kasama, Takashi Takahashi, Hironosuke Sakamoto, Hisao Kumakura, Yoshiaki Takayama, Tsugiyasu Kanda, Masami Murakami and Masahiko Kurabayashi, Relationship between Carotid Atherosclerosis and Lumbar Spine Bone Mineral Density in Postmenopausal Women, Hypertension Research (2008) 31, 1191–1197;
5) Ulf Sennerby, Håkan Melhus, Rolf Gedeborg, Liisa Byberg, Hans Garmo, Anders Ahlbom, Nancy L. Pedersen, Karl Michaëlsson. Cardiovascular Diseases and Risk of Hip Fracture, JAMA. 2009;302(15):1666-1673.
6) Norman H. Bell and Ralph H. Johnson. Bisphosphonates in the treatment of osteoporosis, Endocrine, Volume 6, Number 2 / April, 1997.
7) Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)
8) Wachman A, Bernstein DS. Diet and osteoporosis. Lancet. 1968;1:958–9.
9) Frances A. Tylavsky, Lisa A. Spence Laura Harkness. The Importance of Calcium, Potassium, and Acid-Base Homeostasis in Bone Health and Osteoporosis Prevention. J. Nutr. 138: 164S–165S, 2008 full free paper at http://jn.nutrition.org/cgi/reprint/138/1/164S