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domingo, 5 de setembro de 2010

Os níveis de ácido láctico no plasma e de desidrogenase láctica (LDH) aumentam com a idade?

Loiseleur e Morel foram os primeiros a relatar em 1931 sobre o aumento na concentração de ácido láctico no plasma com a idade (1). Contudo, em um estudo realizado por Gottfried, Pelz e Clifford, publicado em 1961, não foi observada nenhuma diferença nos níveis de ácido láctico no plasma entre um grupo de 49 homens e mulheres acima de 70 anos de idade e um grupo de controle abaixo de 50 anos de idade (2).
Davis e colegas em estudo publicado em 1966 também relataram que o ácido láctico no plasma não aumenta com a idade. Em dois grupos de pacientes ambulatoriais com idade média de 67 anos, totalizando 544 indivíduos que estavam aparentemente livres de doenças agudas, a análise de regressão para tanto o ácido láctico no plasma quanto ao LDH não revelou qualquer mudança significativa (3).
Contrastando com os relatos de Gottfried (2) e Davis (3), um estudo por Nagamine e Shima publicado em 1989 indicou a partir de análises químicas no plasma, obtido de 1822 homens e de 1870 mulheres, que os valores para o LDH foram maiores nas mulheres acima de 50 anos de idade. Quando homens e mulheres foram combinados as faixas de referências normais para o LDH tenderam a ser elevadas. Os valores para o colesterol total e triglicérides alcançaram um pico em certa idade (4).
Tomando em vista os resultados conflitantes nos trabalhos acima mencionados, pensamos que novas investigações são necessárias em ordem de definitivamente esclarecer se o ácido láctico no plasma e o LDH aumentam com a idade, se existe correlação com os níveis de colesterol, e sobre uma potencial relação causal, como apregoada pela teoria da acidez na aterosclerose (5).
Lembrando O. J. Pollak, 1952:
“Certamente todos os tecidos mudam com a idade. Existe envelhecimento anatômico e químico. A acidez dos tecidos aumenta com a idade; isso favorece a precipitação do colesterol”, O. J. Pollak, 1952
Carlos Monteiro
1. Loiséleur J and R Morel. Influence de l’age et de L’état fonctionnel du foie sur la lacticémie. C. R. Soc. Biol, Paris, 106:35-37, 1931
2. Gottfried S. P., K. S. Pelz and R. C. Clifford. Carbohydrate metabolism in healthy old men over 70 years of age. Amer J. med. Sci, 242: 475-480, 1961
3. Davis R. L., Lawton A. H. et al. Serum lactate and lactic dehydrogenase levels of aging males. J. Gerontology 1966, Oct 21(4):571-4
4. Nagamine Y, Shima K. Changes in normal reference ranges for serum chemical analyses with ageing. Nippon Ronen Igakkai Zasshi. 1989 Jan;26(1):31-6.
5. Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)

10 comentários:

  1. Dr.Monteiro, li em um de seus artigos a indicação de alimentos que atuam na REDUÇÃO de ácido láctico no sangue. Poderia dar uma idéia de quais alimentos contribuem para o AUMENTO do ácido láctico no sangue? Grata, Angela

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  2. Oi Angela,
    Conforme descrito na teoria da acidez na aterosclerose:
    A ingestão de glicose, frutose, e de outros açucares pode ter um efeito de elevação no ácido láctico sangüíneo com esse aumento sendo muito mais marcante e demorado após frutose,
    que é largamente usada como adoçante em bebidas sem álcool, massas, e alimentos processados. A frutose na dieta também resulta em aumentos na pressão sangüínea (70, 71);
    h) Dietas com alto teor de carboidratos podem aumentar significativamente a atividade de desidrogenase láctica no soro sangüíneo (149, 150).
    Alguns artigos publicados nesse blog que talvez lhe interessem:
    quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
    Afinal, o que provoca a elevação dos níveis de colesterol no sangue?
    quarta-feira, 14 de abril de 2010
    Carboidratos fermentáveis: Um vínculo entre a doença periodontal e a doença cardiovascular?
    Carlos Monteiro

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  3. Dr. Monteiro, obrigada pela atenção! Não sou exatamente versada nos detalhes técnicos da fisiologia humana, de modo que sempre sou um pouco mais "devagar" para entender certas coisas. =)

    Até esse ponto, sob o ponto de vista alimentar, entendi o seguinte: açúcares de qualquer natureza, particularmente a frutose, aumentam o ácido láctico no sangue. Isso inclui, suponho eu, os carboidratos refinados; frutas e vegetais ricos em quercetina, óleo de peixe, curcumina e resveratrol teriam papel na redução da produção do ácido láctico; uma dieta de baixos carboidratos seria uma estratégia preventiva.

    Mas, qual seria a SUA definição de uma dieta de baixos carboidratos, que não leve à produção excessiva de ácido láctico e favoreça um estado alcalino do sangue?

    Entretanto, se me permite abusar da sua boa vontade, antecipo algumas dúvidas:

    - A frutose aumenta o ácido láctico - mas frutas podem contribuir na redução do ácido láctico... (?) posso entender que a frutose aqui mencionada é a isolada industrialmente e usada de forma concentrada - HFCS - como adoçante em produtos industrializados? Ou seja - uma dúvida que sempre me fica quando leio textos falando sobre os malefícios da frutose: a fruta inteira é uma coisa, a frutose isolada é outra?

    - Alimentos contendo ácido láctico, como iogurtes e alguns outros produtos lacto-fermentados tradicionais, como sauerkraut, kefir e outros, contribuem para o aumento do ácido láctico no sangue? Ou uma coisa não tem nada que ver com a outra?

    - Colesterol alto é SEMPRE sinal de lesão endotelial vascular - ou de ácido láctico elevado e pH baixo? Como abordamos o problema que está por trás dessa elevação e evitar que oxide?

    - É possível aumentar o pH sanguíneo sem medicamentos? O pH da saliva reflete o pH sanguíneo?

    Perdoe-me o "bombardeio"... mas essas são dúvidas antigas, que me parece você tem ao menos algumas respostas para elas! Obrigada MESMO!
    Angela

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  4. Oi Angela,
    Como deve ter notado temos uma visão bastante diferenciada quanto ao que na realidade faz bem ou mal para a saúde.
    Acreditamos que comer uma maça por dia pode fazer bem á saúde. Entretanto, a indicação feita por alguns especialistas quanto ao seu consumo exagerado não recebe nossa concordância, pois pode levar ao aumento na produção de ácido láctico no sangue.
    Enquanto isso alimentos à base de gorduras saturadas e colesterol não têm influência sobre o sistema nervoso simpático como acontece no caso dos alimentos com alto teor de carboidratos.
    Dentro da idéia da teoria da acidez o estresse, os alimentos com alto teor de carboidratos, a poluição e diversos outros fatores levam a hiperatividade do simpático, gerando um aumento na glicólise anaeróbica e com consequente lesão arterial, com o colesterol elevado sendo apenas uma resposta curativa do organismo.
    Concluindo, a hiperatividade do simpático e suas consequencias, entre elas o aumento na produção do ácido láctico no sangue podem ser reduzidas procurando-se reduzir o estresse, através de uma dieta low-carb, etc, como prevê a teoria da acidez na aterosclerose.
    Carlos Monteiro

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  5. É um grande conforto saber que temos no Brasil médicos alinhados com esse pensamento! É bastante desesperador ver amigos sendo "mal" tratados pela medicina convencional, e levando uma vida de restrições errôneas - sem qualquer melhora...

    Obrigada pelos esclarecimentos,
    Angela

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  6. Angela,
    Na realidade, sou apenas um pesquisador independente em busca da verdade médica, mas sem o título de Doutor. Durante 28 anos fui discipulo privilegiado e continuando até hoje como seguidor no plano cientifico do Dr. Quintiliano H. de Mesquita, o qual considero um dos maiores gênios da medicina. Veja em http://www.infarctcombat.org/qhm/homepage.html
    P.S.: Náo respondi sua questão sobre alimentos contendo ácido láctico pois não tenho conhecimento específico na matéria.
    Entretanto, veja o seguinte artigo nesse blog:
    terça-feira, 13 de julho de 2010
    Antigos experimentos com coelhos e cães providenciam poderosa evidência para a Teoria da Acidez na Aterosclerose (1)
    Carlos Monteiro

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  7. Dr. Monteiro, obrigada mais uma vez pela atenção. Fui apresentada ao seu trabalho pelo meu querido amigo Ricardo Carvalho, do Canibais e Reis, e fiquei encantada - mas, agora digo eu, lembre-se de que sou apenas uma "curiosa independente"! =)

    Estou lendo o seu trabalho e blog aos poucos. Por acaso cheguei à versão em Inglês, e vi o artigo e os comentários que se seguiram.

    Sempre achei que as comidas lactofermentadas fossem saudáveis, por proverem lactobacilos e eliminarem algumas toxinas naturais de alguns alimentos. Até escrevi um artigo no meu blog sobre isso: http://enzimato.blogspot.com/2008/11/repolho-cia-nem-cozidos-nem-crus.html.

    A Weston A. Price Foundation também promove muito esse tipo de forma de preparo dos alimentos - embora, obviamente, o consumo seja sempre em pequenas quantidades, mais como um condimento para ajudar na digestão e na colonização do intestino: http://www.westonaprice.org/abcs-of-nutrition/475-principles-of-healthy-diets.html.

    Essa foi, na verdade a razão da minha pergunta, pois, dentro da minha lógica de leiga a teoria da acidez faz completo sentido. E, além dos alimentos fermentados, há outros acusados de promoverem acidez - um conceito, aliás que também sempre me confunde, visto que dizem que certos alimentos ácidos são, na verdade, alcalinizantes, como o limão, por exemplo...

    Um abraço,
    Angela

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  8. Angela, sigo sempre que posso o excelente trabalho que o Ricardo está fazendo no Canibais e Reis. Acima de tudo pela mente aberta que ele tem, abrindo espaço para a controvérsia. Parece-me que você tem essas mesmas qualidades. Por isso estarei também seguindo o blog enzimato sempre que for possivel.
    Tenho contato com a Sally Fallon não só através da Weston A Price como também por meio de nosso grupo de discussão no THINCs. A Sally não contestou até hoje sobre o artigo "Antigos experimentos com coelhos e cães providenciam poderosa evidência para a Teoria da Acidez na Aterosclerose", onde a ingestão de ácido láctico causou aterosclerose. Acredito e espero que você esteja certa quanto a que as pequenas quantidades usadas na preparação de alimentos sejam saudáveis, mas como falei antes prefiro não dar palpites pela falta de experiência e desconhecimento que tenho a respeito.
    Um abraço,
    Carlos Monteiro

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  9. E é possível a medição do ácido láctico no sangue por exame de laboratório simples? Esse seria um marcador de controle?

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  10. Angela, a medição do ácido láctico no sangue pode ser feita em laboratórios de análise clínicas. Continua a ser usado como um marcador para dizer o montante de lactato liberado durante o infarto agudo do miocárdio e até um estudo relacionou-o com a severidade da doença arterial coronária. Veja artigo publicado recentemente sobre Lactato e Infarto do miocárdio publicado há alguns dias em http://ccforum.com/content/pdf/cc9253.pdf
    Sobre o conceito de alimentos ácidos causando doenças um de seus grandes promotores é o Dr. Robert Young que transcreveu, por conta própria, alguns de nossos artigos recentes em seu blog http://articlesofhealth.blogspot.com/
    Eu também sou bastante céptico quanto a simplicidade desse conceito. Dentro de nosso ponto de vista precisaria existir nesse caso uma hiperacidificação ou indiretamente a ativação do sistema simpático para resultar na elevação do ácido láctico no sangue e consequentemente a geração da doença. Não só a aterosclerose como também câncer e outras doenças. Sobre ácido láctico e cancer veja em http://www.infarctcombat.org/polemica-41/icem.html
    Um abraço,
    Carlos Monteiro

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