A função barorreflexa ou reflexo barorreceptor é um dos mecanismos homeostáticos do organismo para regular a pressão sangüínea através do controle da frequência cardíaca, força das contrações do coração e diâmetro dos vasos sanguíneos. Os mais importantes barorreceptores arteriais estão localizados no seio da carótida e no arco aórtico. Esses barorreceptores respondem ao estiramento da parede arterial de forma que se a pressão arterial subitamente aumentar, as paredes desses vasos expandem passivamente, estimulando a ativação desses receptores. No caso da pressão sanguinea arterial cair subitamente, o estiramento diminuído das paredes arteriais leva a uma redução na ativação do receptor. A perda da influência estabilizadora do controle vagal aumenta a susceptibilidade de influências simpáticas. De outro lado o resultado da melhoria barorreflexa é a inibição do sistema nervoso simpático e ativação do sistema nervoso parassimpático.
É interessante notar o dano ou redução da sensitividade barorreflexa em frente de alguns fatores chave para a aterosclerose, doença cardiovascular e acidente vascular cerebral, como por exemplo, o envelhecimento, a ingestão de açucares, em especial nas dietas com alto conteúdo de frutose, e o fumo.
Relacionados à aterosclerose existem alguns estudos mostrando que na ateromatose bilateral da carótida (1) e em uma maior espessura da intima-media da carótida (2), a sensitividade barorreflexa é reduzida ou danificada.
Nessa direção um estudo publicado em 2005 indicou que a disfunção barorreflexa arterial promove o desenvolvimento da aterosclerose em ratos, e que a inflamação pode estar envolvida no processo (3). Os mesmos autores demonstraram em uma mais recente publicação de que baixas doses de ketanserina, um anti-hipertensivo, preveniu o desenvolvimento da aterosclerose em ratos e coelhos espontaneamente hipertensivos, pelo menos em parte, através da intensificação da sensitividade barorreflexa arterial (4). Outras drogas anti-hipertensivas como betabloqueadores podem intensificar a sensitividade barorreflexa (5) com efeitos positivos na aterosclerose (6). Os glicosídeos cardíacos, que representam outra classe de remédios, também aumentam o controle barorreflexo cardiopulmonar da atividade simpática (7), o qual é provavelmente responsável pelos potenciais efeitos da digital na aterosclerose (6,8,9).
Ao lado das drogas mencionadas acima existem alguns estudos recentes sugerindo que ácidos graxos poliinsaturados - ômega-3 (19), cacau (10), vitaminas como, por exemplo, vitamina C (11,12), vitamina E (13) e ácido fólico (14,15), a parte de exercícios aeróbicos (16,17) e da respiração lenta (18), melhoram a sensibilidade barorreflexa com possíveis efeitos positivos no tratamento e prevenção da aterosclerose, de acordo com o ponto de vista da teoria da acidez (6), onde a predominância simpática é o fator primário na cascata de eventos levando a espiral aterogênica.
Carlos Monteiro
1. Nasr N et al. Baroreflex sensitivity is impaired in bilateral carotid atherosclerosis. Stroke, 2005;36:1891-1895
2. Gianoros PJ et al. Greater intima-media thickness in the carotid bulb is associated with reduced baroreflex sensitivity. Am J Hypertens. 2002; 15(6): 486-491
3. Cai GJ et al. Arterial baroreflex dysfunction promotes atherosclerosis in rats. Atherosclerosis, 2005 Nov; 183(1):41-7
4. Yu YS et al. Effects of low-dose ketanserin on atherosclerosis in rats and rabbits. Can J Pysiol Pharmacol 2010 Nov;88(11):1054-60
5. Truijen J et al. Baroreflex sensitivity is higher during acute psychological stress in healthy subjects under B-adrenergic blockade. Clin Sci (Lond), Feb 2011; 120(4):161-167
6. Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)
7. Schobel HP et al. 1991.Contrasting effects of digitalis and dobutamine on baroreflex sympathetic control in normal humans, Circulation V84, 1118-1129. Texto gratuito em http://circ.ahajournals.org/cgi/reprint/84/3/1118
8. Jagielska J. et al. Digitoxin elicits anti-inflammatory and vasoprotective properties in endothelial cells: Therapeutic implications for the treatment of atherosclerosis?, doi:10.1016/j.atherosclerosis.2009.03.019
9. Kolkhof P et al. Cardiac glycosides potently inhibit C-reactive protein synthesis in human hepatocytes. Biochem Biophys Res Commun. 2010 Mar 26;394(1):233-9. Epub 2010 Mar 3.
10. Akita M et al., Effects of cacao liquor polyphenols on cardiovascular and autonomic nervous functions in hypercholesterolaemic rabbits. Basic Clin Pharmacol Toxicol. 2008 Dec;103(6):581-7.
11. Kevin D. Monahan et al, Ascorbic acid increases cardiovagal baroreflex sensitivity in healthy older men. Am J Physiol Heart Circ Physiol 286: H2113–H2117, 2004.
12. Gianfranco Piccirillo et al., Influence of Vitamin C on Baroreflex Sensitivity in
Chronic Heart Failure. Hypertension. 2003; 41:1240-1245.
13. Peter Studinger et al., Effect of vitamin E on carotid artery elasticity and baroreflex gain in young, health adults. Autonomic Neuroscience, V 113, I1, Pages 63-70; 2004
14. Béchir M et al., Folic Acid Improves Baroreceptor Sensitivity in Hypertension. J Cardiovasc Pharmacol;45:44–48), 2005
15. Xiu-juan MA et al, Clonidine, moxonidine, folic acid, and mecobalamin improve baroreflex function in stroke-prone, spontaneously hypertensive rats. Acta Pharmacol Sin 2007 Oct; 28 (10): 1550–1558
16. Deley G et al., Arterial baroreflex control of cardiac vagal outflow in older individuals can be enhanced by aerobic exercise training. Hypertension, 2009;53:826-832
17. Effects of long-term exercise training on cardiac baroreflex sensitivity in patients with coronary artery disease: a randomized controlled trial. Clin Rehabil. 2011 Mar;25(3):217-27
18. Carlos Monteiro, Slow breathing increases baroreflex sensitivity and reduces sympathetic activity with benefic effects to cardiovascular disease, August 9, 2010 em http://www.teoriadaacidez.blogspot.com
19. Radaelli A, Cazzaniga M, Viola A, et al. Enhanced baroreceptor control of the cardiovascular system by polyunsaturated fatty acids in heart failure patients J Am Coll Cardiol 2006;48:1600-1606. Texto gratuito em http://content.onlinejacc.org/cgi/reprint/48/8/1600.pdf
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