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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O impacto positivo do humor e negativo do estresse sobre a função vascular

O estresse crônico é correlacionado com aumentos do cortisol e catecolaminas, hormônios do estresse. Existe uma forte evidência científica vinculando estados emocionais negativos como a depressão, ansiedade ou raiva, com um risco aumentado na doença cardiovascular. Porém, muito menos é conhecido sobre a associação entre estados emocionais positivos, o tão chamado eustresse, como o riso e a felicidade. O mais agradável de todos os tipos de riso está associado com o humor e é especificado como riso jovial.
A esse respeito existem alguns estudos feitos pelo Dr. Berk e colegas, da Universidade de Loma Linda, demonstrando que em comparação com estresse crônico o riso jovial reduziu os níveis de cortisol em 39%; adrenalina em 70% e dopac em 38%. A conclusão em um desses trabalhos foi de que o humor parece atenuar as catecolaminas e a recorrência do infarto do miocárdio (IM) e conseqüentemente pode ser um efetivo adjuvante no cuidado pós-infarto (1, 2, 3).
De outro lado o Dr. Michael Miller, da Universidade de Maryland, apresentou um estudo junto ao Congresso da Sociedade Européia de Cardiologia, realizado em 2011 (4), o qual enfatizou o vínculo entre a função endotelial e o riso. Seu estudo mostrou que quando as pessoas riem seus principais vasos sangüíneos se dilatam permitindo um fluxo sangüíneo mais fácil, o que indica um reduzido risco de eventos cardíacos.
A idéia do Dr. Miller de estudar emoções positivas como, por exemplo, o riso, aconteceu a partir de estudos que mostraram que o estresse mental leva os vasos sangüíneos a se contraírem. Seu primeiro estudo sobre senso de humor e doença arterial coronária foi publicado em 2001 (5). Em outro trabalho, publicado em 2009 (6), falou sobre os testes feitos para confirmar a hipótese de que o riso jovial também afeta favoravelmente a vasodilatação fluxo-mediada do endotélio dependente (FMD). Dessa forma, os voluntários foram randomizados para duas diferentes fases em um estudo cruzado randomizado. Uma fase incluiu assistir um filme ou segmento de comédias populares (ex: Saturday Night Live) enquanto a segunda fase foi a de se assistir um filme conhecido por promover o estresse mental (ex: O segmento de abertura do “Resgate do Soldado Ryan”). A avaliação da vasoreatividade do endotélio dependente foi realizada através do uso de ultra-som de alta resolução da artéria braquial, também referida como teste de reatividade da artéria braquial (BART). Um total de 160 medidas BART foi realizado o que demonstrou um efeito divergente após se assistir um filme que provocou estresse mental comparativamente com o riso jovial. Especificamente, uma redução de 35% no FMD comparada com a linha base seguiu o estresse mental enquanto ocorreu um aumento de 22% no FMD em resposta ao riso (7). Em 2008 o Dr. Miller e seus colegas, em uma apresentação oral intitulada “Emoções positivas e o endotélio: A música alegre melhora a saúde vascular?”, feita durante as seções científicas acontecidas na Associação Ame-ricana do Coração, concluíram que os benefícios cardiovasculares da música são similares aqueles encontrados nos estudos prévios quanto ao riso jovial (8)
Em 2010 o Dr. Sugawara e seus colegas confirmaram os achados do Dr. Miller dizendo que seus resultados sugeriram que o riso jovial provocado por filmes cômicos induz a um impacto positivo sobre a função vascular (9).
Novamente, em apresentação feita pelo Dr. Miller no ESC, 2011 (4), ele informou que os voluntários assistiram segmentos de um filme cômico em um dia, tal como “Quem vai ficar com Mary” e no outro assistiram ao segmento de abertura do “Resgate do Sol-dado Ryan”). Quando os voluntários do estudo assistiram ao es-tressante filme, seu endotélio desenvolveu uma resposta potenci-almente não saudável chamada de vaso-constrição, reduzindo o fluxo sangüíneo. De uma forma geral, nesse tempo, mais do que 300 medidas foram feitas com uma diferença de 30-50% no diâmetro do vaso sangüíneo entre as fases do riso e do estresse mental (4).
Nós pensamos que os estudos acima dão uma evidência adicional para nossa teoria da acidez na aterosclerose (10), que tem a seguinte seqüência de eventos:
I. Dominância simpática por estresse contínuo mais
II. Deficiência na produção de componentes endógenos do tipo digital (digitalis-like compounds – DLCs) com alterações na atividade da Na(+), K(+)-ATPase resultando em:
III. Redução no pH (acidez) o que aumenta a pressão de perfusão e provoca efeitos na contratilidade das artérias coronárias levando a mudanças na tensão tangencial hemodinâmica e aterosclerose como conseqüência.
Carlos Monteiro
1. Berk LS, Tan SA and Berk B. Cortisol and cathecolamine stress hormone drecrease is associated with the behavior of perceptual anticipation of mirthful laughter. The FASEB Journal. 2008; 22;946.11
2. Tans SA, Berk LS et al. Humor as an adjunct therapy in cardiac rehabilitation, attenuates cathecolamines and myocardial infarction recurrence. Adv Mind Body Med 2007; 22(3-4): 8-12
3. Berk LS et al. The neuroendocrine and stress hormone changes during mirthful laughter. Am J Med Sci 1989;6:390-396
4. Miller M. Laughter and vascular function, ESC 2011.
5. Clark A, Seidler A, Miller M. Inverse association between sense of humor and coronary heart disease. Int J Cardiol. 2001 Aug; 80(1):87-8
6. Miller M, Fry WF. The effect of mirthful laughter on the human cardiovascular system. Med. Hypothesis 2009; 73(5):636 . Full free text at http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2814549/pdf/nihms-154943.pdf
7. Miller M, Mangano C, Park Y, et al. Impact of cinematic viewing on endothelial function. Heart 2006; 92:261-262
8. Miller M, Beach V, Mangano C, Vogel RA. Positive emotions and the endothelium: Does joyful music improve vascular health? American Association Scientific Sessions, on 11/11/2008
9. Sugawara et al. Effect of mirthful laughter on vascular function. Am J Cardiol 106:856-9 (2010).
10. Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)

2 comentários:

  1. É a Ciência comprovando o que diz o ditado popular: RIR é o melhor remédio! :)))

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  2. Ativação do simpático, acidose metabólica e reatividade vascular:
    Os trabalhos mencionados acima, desenvolvidos por Michael Miller, confirmam estudos prévios sugerindo que a ativação simpática com elevação das catecolaminas circulantes (adrenalina, etc..), causam vasoconstricão das artérias coronárias e consequente redução no fluxo sangüineo.
    De outro lado é interessante notar que o aumento do lactato no sangue (ou decréscimo no pH sangüineo) podem evocar relaxamento no músculo liso vascular e aumento no fluxo sangüineo (1).
    Essas forças opostas trabalhando na seqüência, com a hiperatividade do simpático levando a acidose metabólica, na nossa opinião, podem ser reconciliadas no sentido de parcialmente explicar a ocorrência do resultante estiramento/relaxamento anormal das artérias coronárias, que ocorre em diferentes direções, simultaneamente, produzindo aterosclerose (2).
    1. Celotto AC, Capellini VK et al. Effects of acid-base imbalance on vascular reactivity. Brazilian Journal of Medical and Biological Research (2008) 41:439-445 Full free text at http://www.scielo.br/pdf/bjmbr/v41n6/7099.pdf
    2. Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)

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