A disfunção erétil (ED) afeta 40% dos homens acima dos 40 anos de idade, em algum grau, e dois terços dos homens acima dos 70 anos têm sintomas significativos de ED.
A associação entre a disfunção erétil e a doença arterial coronária (DAC) foi sugerida anos atrás, através de estudos de observação. Mais recentemente foi descoberto que a disfunção erétil é um marcador precoce da DAC, como o canário na mina de carvão*.
De fato alguns estudos têm demonstrado que a aterosclerose co-ronária é muito mais severa em pacientes com ED vascular, com os autores considerando que a ED pode ser um antecipado sinal de alarme de aterosclerose coronária (1).
Uma recente meta-análise de estudos prospectivos de grupos, envolvendo 36.744 participantes, sugeriu que a ED aumenta significativamente o risco de doença cardiovascular, DAC, acidente vascular cerebral, e mortalidade por todas as causas, e que esse aumento seja provavelmente independente dos fatores de risco convencionais (2)
A ereção é iniciada através do sistema nervoso parassimpático, ativação a qual anula o tom simpático que mantém o pênis em um estado não-erétil (flácido). Esse estado é mantido principalmente através da liberação de noradrenalina dos nervos adrenérgicos do pênis. A noradrenalina contrai a vasculatura e o músculo macio cavernoso. A excitação/ereção está associada com a redução da liberação de noradrenalina no pênis, com a liberação de óxido nítrico (NO), e com a redução no tom do músculo macio do pênis. Conseqüentemente, o óxido nítrico é o mediador da vasodilatação parassimpática na função erétil (3). Então, quando o sistema parassimpático é continuamente desativado existe uma redução na produção de NO.
Estilo de vida e nutrição tem sido cada vez mais reconhecidos como fatores centrais influenciando a produção do óxido nítrico vascular e a função erétil. ED está associada com o fumo, excessiva ingestão de álcool, obesidade abdominal, diabetes, hipertensão e decréscimo de defesa anti-oxidante, todos os quais reduzem a produção de NO (4). Recentes estudos têm discutido sobre os benefícios das intervenções no estilo de vida, com hábitos alimentares mais saudáveis, prática de exercícios e se evitar o fumo no sentido da melhoria da disfunção erétil (5) e também almejando a redução de fatores de risco para a doença arterial coronária (4, 6).
É interessante notar que a ED e a aterosclerose tem muitos fatores de risco em comum como, por exemplo, envelhecimento, inatividade física, dieta inapropriada, estresse psicológico, fumo, hipertensão e diabetes.
Com relação a esse ponto existem diversos estudos mostrando que: a) aumentada atividade simpática e estresse mental podem afetar a função erétil com estudos sugerindo que um elevado tom simpático central pode ser uma das causas da impotência psicogênica (7, 8, 9); b) um estudo sugeriu que drogas agindo no sistema nervoso central que reduzam o fluxo simpático anti-erétil e aumentem o fluxo parassimpático pró-erétil para o pênis, podem restaurar a ereção do pênis em casos de disfunção erétil de origem psicogênica e orgânica (10); c) outro estudo demonstrou que pacientes reclamando de disfunção sexual durante o dia e achados por monitoração da ereção relacionada ao sono de sofrerem de disfunção erétil orgânica, tiveram alterado seu balanceamento autônomo cardíaco durante ambos os estágios do sono (11); d) Um estudo mostrou que homens com disfunção erétil idiopática têm evidência de disfunção endotelial têm resistência dos vasos no antebraço, aumento na pressão do pulso e variabilidade da freqüência cardíaca comprometida. Segundo os autores isso suporta o conceito de que a disfunção erétil é um preditor da disfunção cardiovascular e um precursor da doença cardiovascular (13). e) finalmente, um estudo bastante recente mostrou que pacientes com ED exibiram diferente variabilidade na freqüência cardíaca comparada com o grupo de controle normal. Isso sugeriu aos autores que os pacientes com ED possam ter algum tipo de desbalanceamento no sistema nervoso autônomo (SNA) podendo ser possível que o desbalanceamento geral do SNA seja uma das causas de ED (12).
Levando-se em conta os estudos acima e nossa postulação de que a predominância do simpático seja o fator primário na cascata de eventos levando a espiral aterogênica (13, 14), nós temos de presumir que a predominância do simpático seja realmente o vínculo entre a ED e a doença cardiovascular.
*Enquanto o canário está cantando, está tudo bem. No entanto, um canário morto é um alarme para um problema maior
Referências
1. Chiurlia E et al. Subclinical coronary artery atherosclerosis in patients with erectile dysfunction. J Am Coll Cardiol, 2005; 46:1503-6
2. Dong JY et al. Erectile dysfunction and risk of cardiovascular disease. Meta-analysis of prospective cohort studies. J Am Coll Cardiol, 2011; 58:1378-1385
3. Andersson K, Stief C. Penile erection and cardiac risk: pathophysiologic and pharmacologic mechanisms. Am J Cardiol. 2000 Jul 20;86(2A):23F-26F
4. Meldrum DR et al. The link between erectile and cardiovascular health: the canary in the coal mine. Am J Cardiol. 2011 Aug 15; 108(4): 599-606
5. Horasanli K et al. Do lifestyle changes work for improving erectile dysfunction? Asian J Androl, 2008; 10(1):28-35
6. Gupta PB et al. The effect of lifestyle modification and cardiovascular risk factor reduction on erectile dysfunction: A systematic review and meta-analysis. Arch Intern Med, 2011. Published online September 12.
7. Junemann KP et al. Neurophysiological aspects of penile erection: the role of the sympathetic nervous system. Br J Urol, 1989 Jul;64(1):84-92
8. Pagani M. Hypertension, stress and erectile dysfunction: potential insights from the analysis of heart rate variability. Curr Med Res Opin, 2000; 16 Suppl1:s3-8
9. Diederichs W et al. The sympathetic role as an antagonist of erection. Urol Res. 1991;19(2):123-6
10. Allard J, Giuliano F. Central nervous system agents in the treatment of erectile dysfunction: how do they work? Curr Urol Rep 2001 Dec;2(6):488-94
11. Lavie P et al. Cardiac autonomic function during sleep in psychogenic and organic erectile dysfunction. J Sleep Res. 1999 Jun;8(2):135-42
12. Lee JY et al. Heart rate variability in men with erectile dysfunction. Int Neurourol J 2011;15:87-91. Full free text at http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3138849/pdf/inj-15-87.pdf
13. Stuckey BG, Walsh JP ET al. Erectile dysfunction predicts generalised cardiovascular disease. Evidence from a case control study. Atherosclerosis 2007, 194(2):458-64
14. Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)
15. Predominância do sistema nervoso simpático: o fator primário na cascata de eventos levando a espiral aterogênica. , Carlos Monteiro, 22 de Fevereiro de 2010 em http://teoriadaacidez.blogspot.com/2010/02/predominancia-do-sistema-nervoso.html
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