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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Lactato como causa de dano secundário no acidente vascular cerebral isquêmico

A aterosclerose das artérias carótidas é a principal causa do acidente vascular cerebral (derrame) isquêmico. O aumento na espessura da intima-media da artéria carótida é um marcador de aterosclerose e também um preditor com relação ao acidente vascular cerebral isquêmico, o qual representa mais do que 80% dos acidentes vasculares cerebrais, sendo o restante devido a hemorragia.
Estudo recente envolvendo 187 pacientes com acidente vascular cerebral isquêmico agudo ou ataque isquêmico transitório (1) indicou que lactato no fluido cérebro-espinhal, mas não no sangue, é um marcador de confiança com relação a crise metabólica no acidente vascular cerebral isquêmico e uma possível causa de dano neural secundário no infarto cortical resultando em uma desfavorável evolução na fase subaguda do derrame e um pobre resultado no longo prazo.
Entretanto, alguns pesquisadores acreditam que o lactato total no sangue, como medido nesse estudo, diferentemente do lactato medido no plasma, é uma duvidosa medida de lactato sistêmico (2).
É interessante notar que um estudo desenvolvido em 2004 achou que no acidente vascular cerebral isquêmico a ativação mediada pela acidose nos canais de íons sensores a ácidos pode contribuir para o dano isquêmico do tecido cerebral (3).
Mais interessante é que glicosídeos cardíacos, além de terem efeitos anti-ateroscleróticos, como já foi discutido nesse blog (4, 5), também podem proporcionar neuroproteção cerebral em frente a um acidente vascular cerebral isquêmico e na prevenção de sua ocorrência (6).
Carlos Monteiro
1) Evaluation of lactate as a marker of metabolic stress and cause of secondary damage in acute ischemic stroke or TIA, Brouns R, Sheorajpanday R, Wauters A, Surgeloose DD, Mariën P, DE Deyn PP. Clinica Chimica Acta 397 (2008) 27–31
2) The Lactic Acid Response to Alkalosis in Panic Disorder: An Integrative Review Richard J. Maddock, M.D.J Neuropsychiatry Clin Neurosci 13:1, Winter 2001. Full free paper at http://neuro.psychiatryonline.org/cgi/content/full/13/1/22
3) Huang Y, McNamara JO. 2004. "Ischemic Stroke: “Acidotoxicity” Is a Perpetrator", Cell, Volume 118, Issue 6 , 17 September, Pages 665-666
4) Os efeitos anti-ateroscleróticos dos glicosídeos cardíacos, Carlos Monteiro, em http://teoriadaacidez.blogspot.com/2009/11/os-efeitos-anti-ateroscleroticos-dos.html
5) Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)
6) Glicosídeos Cardíacos na Prevenção de Derrame, Carlos Monteiro, http://www.infarctcombat.org/polemica-43/icem.html

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Estresse, ácido láctico, hipertensão, aterosclerose e perda de cabelos

No último final de semana li um artigo no jornal New York Times, intitulado “A alta pressão sangüínea aumentará o risco de perda de cabelos” (http://www.nytimes.com/2009/12/08/health/research/08real.html), o qual chamou minha atenção.
O NYT discutiu os resultados e fez um link para alguns dos estudos os quais sugeriram que perda de cabelos podem indicar um aumento no risco de alta pressão sangüínea e doença cardíaca.
Curioso sobre essa informação procurei no Pubmed, encontrando um trabalho recente vinculando perda de cabelos relacionado também a aterosclerose, com os autores apontando que um padrão severo do vértice da alopecia andro-genética deveria ser considerada como tendo um aumentado risco de aterosclerose sub-clínica (1).
Indo mais fundo na pesquisa achei uma postulação feita em 1997 pelo italiano Marino Salin, dizendo que se existir um excesso do tom adrenérgico no sistema metabólico, então existirá também vasoconstrição, isquemia e hipóxia e se existir hipóxia a glicólise levará a produção de ácido láctico que causa um dano cáustico na bainha interior e essa bainha parecerá aumentar acima da cutícula de cabelos (2).
Esta postulação coincide com nossos pensamentos a respeito da teoria da acidez na aterosclerose (3).
1) Dogramaci AC et al,Is androgenetic alopecia a risk for atherosclerosis? J Eur Acad Dermatol Venereol. 2009 Jun;23(6):673-7.
2) Marino Salin e Andrea Marliani, EDIZIONI ELETTRONICHE “TricoItalia” (Firenze) marzo 1997, BOLLETTINO della Società Italiana di Tricologia, La Teoria e la Clinica delle “INCIDENZE” nelle Alopecie. Texto integral em http://www.calvizieinfo.com/bollettino.pdf
3)Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Hipertensão, aterosclerose, stress e ácido láctico

A hipertensão é considerada como um importante fator de risco para o desenvolvimento da aterosclerose, com os dois processos apresentando alguns mecanismos em comum, sendo o endotélio colocado geralmente como o provável foco central para o efeito de ambas as doenças, com evidências que levam a postulação de que a hipertensão predispõe e acelera a aterosclerose, sendo a doença coronário-miocárdica a principal causa de óbito em pacientes hipertensivos.
De outro lado o stress é um dos fatores sugeridos como causa da hipertensão e sua redução pode ajudar a reduzir uma elevada pressão sanguinea. Coincidentemente o stress pode também contribuir para o desenvolvimento e subseqüentes complicações da aterosclerose, o que é evidenciado em diversos estudos (1).
O mecanismo apontado na teoria da acidez na aterosclerose (1), como fator desencadeante, em ambos os processos, se refere a elevação no ácido láctico. É interessante notar que o ácido láctico no plasma sangüíneo pode ter uma elevação significativa durante situações de estresse, e até servindo como indicador de níveis de estresse (2, 3). Também, dietas com alto teor de carboidratos podem aumentar significativamente a atividade de desidrogenase láctica no soro sangüíneo (4,5). De outro lado, na hipertensão, a concentração de ácido láctico no sangue venoso e no arterial pode ser significativamente elevada, como demonstrou estudo realizado há quase 45 anos atrás (6), cujos resultados foram confirmados recentemente através de estudo envolvendo 2066 adultos idosos que participaram do Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC) Carotid MRI Study, onde foi acessada a associação de lactatos com a prevalência de hipertensão, tendo sido observada uma gradual associação dos lactatos no plasma e hipertensão. A conclusão principal dos autores foi de que a alta concentração de lactatos no plasma foi independentemente associada com a probabilidade de hipertensão (7).
O aumento no consumo de bebidas adocicadas com açúcar tem sido associado com um elevado risco de obesidade, síndrome metabólica e diabetes tipo 2, de acordo com estudos anteriores. No entanto, o efeito de bebidas adocicadas com açúcar quanto à pressão sangüínea continua incerto.
Uma pesquisa recente (8) encontrou que reduzindo bebidas adocicadas com açúcar e o consumo de açúcar pode ser uma importante estratégia dietética para reduzir a pressão sangüínea e promover uma redução de outras doenças relacionadas à pressão sangüínea. Os pesquisadores usaram dados de 810 adultos, entre 25 à 79 anos, com pré-hipertensão (entre 120/80 e 139/89 mm Hg) e I estágio de hipertensão (entre 140/90 e 159/99 mm Hg ) que participaram no estudo PREMIER, um estudo de intervenção comportamental de 18 meses com o foco em perda de peso, exercício, e uma dieta saudável como um meio de prevenir e controlar alta pressão no sangue.
Carlos Monteiro
1) Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)
2) Sharda S, Gupta SN and Khuteta KP. 1975. Effect on mental stress on intermediate carbohydrate-and lipid-metabolism. Indian J Physiol Pharmacol. Apr-Jun;19(2):86-9.
3) Hall JB, Brown DA. 1979. Plasma glucose and lactic acid alterations in response to a stressful exam. Biol Psychol. May;8(3):179-88.
4) Marshall MW and Iacono JM (1976). Changes in lactate dehydrogenase, LDH isoenzymes, lactate, and pyruvate as a result of feeding low fat diets to healthy men and women. Metabolism. 1976 Feb;25(2):169-78.
5) Yoshimura T, Miyoshi T, et al. (1986). Effect of high carbohydrate diet on serum lactate dehydrogenase isozyme pattern in Japanese young men. Acta Biol Hung. 1986;37(3-4):243-8.
6) F. E. Demartini, P. J. Cannon, W. B. Stason, and J. H. Laragh. 1965. Lactic Acid Metabolism in Hypertensive Patients. Science 11 June, Vol. 148. no. 3676, pp. 1482 – 1484 em http://www.sciencemag.org/cgi/content/abstract/148/3676/1482
7) Abstract 5003: Association of Blood Lactate with Hypertension: The Atherosclerosis Risk in Communities Carotid MRI Study. J Hunter Young; Stephen O Crawford; Frederick L Brancati; Ron C Hoogeveen; Muhammad Amer; Christie M Ballantyne; Maria I Schmidt; Brad C Astor; Josef Coresh, Circulation. 2008;118:S_1129.), http://circ.ahajournals.org/cgi/content/meeting_abstract/118/18_MeetingAbstracts/S_1129-a

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Os efeitos anti-ateroscleróticos dos glicosídeos cardíacos

Estudo recente comprova que os glicosídeos cardíacos têm efeitos anti-ateroscleróticos (1). Isto já tinha sido previsto pela teoria da acidez na aterosclerose, pois esses cardiotônicos têm propriedades de redução do ácido láctico no sangue e de resposta simpático-inibidora específica através do bloqueio no excesso de produção de catecolaminas (2). Também compativel com o conceito da teoria da acidez a conclusão dos autores do presente estudo dizendo que baixas concentrações de digitoxina ajudariam a evitar efeitos colaterais e poderiam representar uma opção terapêutica especifica para o tratamento da doença cardiovascular, tal como a aterosclerose.
Carlos Monteiro
1) Digitoxin elicits anti-inflammatory and vasoprotective properties in endothelial cells: Therapeutic implications for the treatment of atherosclerosis?, Joanna Jagielska, Gustavo Salguero, Bernhard Schieffer, Udo Bavendiek, doi:10.1016/j.atherosclerosis.2009.03.019
2) Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)

Efeitos potenciais anti-ateroscleroticos dos inibidores da bomba de protons.

Estudo mostrou que cristais de fosfato de cálcio de um micron ou menos no diâmetro causaram rápidos aumentos na concentração intracelular de cálcio, um efeito que foi inibido pelo inibidor da bomba de protons do lisosoma, bafilomycin A1. Bafilomycin A1 também bloqueou a morte celular nos músculos lisos vasculares. Isso sugeriu aos autores que os cristais de fosfato de cálcio são rapidamente degradados nos lisosomas e que a subsequente acidificação levaria a liberacão do cálcio dentro das células (1).
Em recente estudo, procurando-se demonstrar que quando macrófagos na subintima entram em contato com agregados de LDL forma-se um compartimento extracelular, ácido e hidrolitico (a lysosomal synapse), bafilomycin A1 bloqueou a produção de colesterol livre nesse compartimento (2)
Outro estudo discutiu sobre os efeitos potenciais anti-ateroscleroticos dos inibidores da bomba de protons (3).
Esses estudos fortalecem a teoria da acidez na aterosclerose (4)
Carlos Monteiro
1) Calcium Phosphate Crystals Induce Cell Death in Human Vascular Smooth Muscle Cells: A Potential Mechanism in Atherosclerotic Plaque Destabilization, Alexandra E. Ewence et al, Circ. Res. 2008;103;e28-e34; em http://circres.ahajournals.org/cgi/content/full/103/5/e28
2) Macrophages Create an Acidic Extracellular Hydrolytic Compartment to Digest Aggregated Lipoproteins, Haka, A.S., I. Grosheva, E. Chiang, A.R. Buxbaum, B.A. Baird, L.M. Pierini and F.R. Maxfield. Mol. Biol. Cell, in press 2009, em http://www.molbiolcell.org/cgi/reprint/E09-07-0559v1
3) The potential anti-xanthoma and anti-atherosclerotic effects of proton pump inhibitors, M. R. Namazi, MD and M. Sharifian, MD. Journal of Clinical Pharmacy and Therapeutics (2008) 33, 579–580
4) Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)

Oxidação do LDL ocorre no interior de lisosomas

Recente estudo mostra que a oxidação do LDL ocorre não dentro do fluido interstitial -- como pregado pela teoria oxidativa, mas no interior de lisosomas em macrófagos nas lesões ateroscleroticas. Mais importante, o estudo encontrou que essa modificação oxidativa foi inibida pela droga cloroquina a qual aumenta o pH dos lisosomas, visto que a oxidação do LDL pode ser promovida pelo pH ácido (1, 2).
1) Low Density Lipoprotein Undergoes Oxidation Within Lysosomes in Cells, Yichuan Wen and David S. Leake, Circ. Res. 2007;100;1337-1343; em http://circres.ahajournals.org/cgi/content/full/100/9/1337
2) Carlos ETB Monteiro, “Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese.”, disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf (versão em português)